quinta-feira, 25 de abril de 2013

25 de Abril sempre?

Obviamente!

Abril acabou com um regime ditatorial, abriu portas a uma nova Constituição, fundou a Democracia em Portugal. Mas tudo foi perfeito? Não.

Acabou a Guerra Colonial, mas a independência dos territórios ultramarinos foi um processo terrivelmente mal executado. Originou-se a pluralidade política e partidária, mas 20, 30, 40 movimentos e partidos não eram necessários. Deu-se a terra a quem a trabalha, mas de forma leviana. Estivemos às portas de uma guerra civil - o que já se começa a descredibilizar nos nossos dias. Acabou a perseguição política, mas não pararam as rivalidades violentas. Receberam-se os Portugueses de África que, ironicamente, não eram recebidos como tal. E por aí fora. Um alvoroço.

Foi um processo longo e com lacunas, mas nada é perfeito.
Abril deu-nos Liberdade e Democracia. Deu-nos um Estado Social com um Serviço Nacional de Saúde e Educação para todas e todos. Deu-nos eleições livres.
O processo revolucionário já acabou há muito, mas o processo democrático ainda vai no adro. Democracia não se faz de um dia para o outro. Trinta e nove anos passados e a Democracia não é perfeita, nem para lá caminha. Não há evolução democrática, nem podemos dizer que estamos estagnados. Creio que estamos até em retrocesso.
Democracia não é só votar. A Democracia de um ladrão de latas de atum não é a mesma de um ladrão de colarinho branco. A Democracia do filho com pai fabril ou agricultor não é a mesma de um filho com pai milionário e administrador de grandes negócios. A Democracia de um desempregado ou de um empregado precário não é a mesma de um bancário que recupera o seu banco com dinheiro público.

E é aqui, através destas últimas frases, que quero chegar. Não vivi o Estado Novo, não vivi a Revolução dos Cravos, não vivi o COPCON e o PREC, não vivi o 25 de Novembro, não vivi as primeiras eleições livres. Essa não é a minha Geração. E não posso estar preso ao passado que não vivi. Respeito e sinto orgulho na Revolução - não a esqueço -, mas temos em mãos uma nova luta.
A minha Geração vê-se sem emprego ou se o tem é precário. A minha Geração tem de abdicar da Universidade, porque não consegue pagar todos os custos que daí advêm. A minha Geração vê-se obrigada a emigrar. A Geração que é um pouco nada anterior à minha passa fome, é despejada das suas casas e suicida-se. A Geração que veio depois da minha vai para a escola primária sem um copo de leite no estômago.
A nossa Geração vê-se obrigada a pagar PPPs, vê-se obrigada a recapitalizar bancos privados, vê-se a ficar sem bens públicos como Educação, Saúde e Água através de um ataque de políticas liberais e capitalistas sem precedentes.

Esta é a nossa luta. Os 15 de Outubro, os 15 de Setembro, os 2 de Março. Dizer NÃO aos fracos governos que tivemos. Dizer NÃO à troika. Dizer NÃO à Merkel. Dizer NÃO ao caminho que a União Europeia está a trilhar. Dizer NÃO à fome, à miséria e à desigualdade.

Há alternativas, elas estão aí - procura-as e mesmo que não as encontres, elas irão ter contigo. Basta abraçar a reacção em vez da conformação. Quero dizer SIM à continuação da construção da Democracia.

Não vivi Abril e a minha Geração é outra, mas que a bandeira da Revolução esvoace sobre as nossas cabeças quando saímos à rua para reivindicar a Democracia.

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