domingo, 24 de março de 2013

A recompensa de Dr. Jekyll

"Cheira a gás.", disse-me ele.
"A sério? A mim cheira a rosas.", respondi eu.

"Mas se concentrar melhor o olfacto, sinto um toque de podridão.", continuou ele.
"Realmente, se eu me concentrar melhor, surge-me uma leve onda de folhas de laranjeira."

"Não, não... Deve passar-se algo estranho contigo, porque o que estou a sentir não é nada disso. Nem me estou a sentir nada bem.", disse ele a sufocar.
"Contigo é que não se deve passar nada de bom... Estás a envelhecer. Olha só o teu pescoço! Está a implodir, as tuas unhas estão a cair e as tuas orelhas estão a apodrecer!"

"Vê-te espelho!", gritou-me ele. "As rugas da tua testa desapareceram e as madeixas brancas do teu cabelo estão outra vez negras! Olha só para mim! Não mereço eu rejuvenescer em tua vez? O que me está a acontecer?"
"Acho que estás a definhar, meu caro.", retorqui cheio de calma. "Sinto-me bem... Não... Muito bem, até! Não sei o que fazer para te ajudar, nem sinto grande vontade para tal."

"Ajuda-me!"
"Não."

"Por favor! Dá-me água. Tira-me daqui!"
"Não."

"Amaldiçoado sejas! Tu e a tua sorte!
"Pois que seja, não me metes medo, muito menos nesse estado deplorável. E o teu azar ficará para trás. Aqui, para sempre, quando sair e a porta se fechar."

Saí e vivi.
Lá atrás, trancado e a apodrecer, ficou o meu azar e a minha consciência que luta entre fazer bem e fazer mal.

Não mais fui julgado, nem mais justificações tive que dar.
Agora sou só um.

E se o mal farei, pois que prossiga, já não me inquieta. Se o bem farei, pois que a glória me invada.

sábado, 23 de março de 2013

O fenómeno pseudo-suicida e pseudo-depressivo

O fenómeno não deve ser de agora, apesar de estar por cá em grande força, e felizmente não ataca todas as redes sociais como acontece no Tumblr - ou, pelo menos, posso falar naquelas em que estou inserido (que são só duas (ou três, se contarmos com o blogspot como rede social)).

O fenómeno de que vos quero falar é constituído por um grupo medonhamente grande de pseudo-suicidas, melodramáticos adolescentes pseudo-deprimidos, megalómanos da mentira. Por outras palavras, bem mais comum e fácil de entender: attention whores.

Ao que me parece, o Facebook não está atulhado desta gente e se os há não estão certamente na minha lista de amigos e conhecidos. Por outro lado, o Tumblr está contaminado, até porque as imagens são mais acessíveis do que palavras e esta rede social trata precisamente de imagens.

Onde eu quero chegar é que eu sei perfeitamente o que é estar deprimido, eu sei o que é ter ataques de pânico e ansiedade que me levam a níveis psicossomáticos. Por isso, eu sei que partilhar imagens numa rede social não é depressão, é necessidade de atenção - que, ao fim e ao cabo, às tantas também é uma doença da psíque.

Uma pessoa deprimida só tem duas hipóteses: pede ajuda a quem confia e recorre à medicina ou enclausura-se e deprime até definhar, mas não passa horas a partilhar imagens no Tumblr para mostrar que está deprimida. Uma pessoa suicida talvez não tenha duas, mas apenas uma hipótese: suicídio. Mata-se e acabou, de certo não passará dias ou semanas a partilhar imagens no Tumblr para dizer que está em modo suicida. No melhor dos casos, mostra a este/a ou àquele/a amigo/a que está a trilhar um caminho tenebroso e, mesmo assim, nem sempre há salvação - isto no mundo real e não no mundo pseudo dos suicidas das redes sociais.

Isto tudo para dizer que cada vez mais as gerações jovens estão em declínio. Também fui adolescente - e não sou assim tão velho -, também passei por aquela fase torturante em que pensamos que o mundo está todo contra nós, também tive desamores, também escrevi poemas melancólicos de má qualidade. Mas nunca fui estúpido.

Se é verdade que a depressão e consumo de ansiolíticos está a crescer como nunca antes visto pelas razões que todos conhecemos (crise económica, pressão laboral, pressão estudantil, etc...), também é verdade que a necessidade de atenção e a estupidez são posturas na sociedade que sobem de forma astronómica.

E podemos culpar quem? A Internet? A sociedade em geral? Os pais? Talvez os pais, sim.

Talvez eu não seja estúpido pela boa educação que tive.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Incompetência é o novo atestado de confiança

Vítor Gaspar é a personificação da incompetência promovida a atestado de confiança. E se for preciso explicar porquê, basta olhar para as previsões erradas - umas atrás das outras. Contudo, é uma confiança aparentemente inabalável, porque quem promove o seu estatuto de ministro é igualmente incompetente, mentiroso e cego pela sua ideologia - penso que já chegaram lá: Pedro Passos Coelho.

Vítor Gaspar - e consequentemente Portugal - é o bobo da corte Europeia. Passos Coelho é o seu protector. Por sua vez, Merkel é a supra-protectora de todos nós. Que bonito, não é?

E nós?

Nós somos "o melhor Povo do mundo". Só que o melhor Povo do mundo já não aguenta!

Já não aguentamos a austeridade que nos é imposta para saldar uma dívida que não é tua, nem minha. Já não aguentamos ouvir dizer que a Saúde e a Educação estão em risco enquanto milhares de milhões são injectados na banca privada para os salvar. Já não aguentamos saber que todos os dias fecha uma empresa em Portugal, porque a mão-de-obra é mais barata na Tunísia ou na China. Já não suportamos chegar a cada fim do mês e ter que pagar mais com menos. Já não é suportável ver idosos a mendigar. Já não aguentamos ver os nossos jovens a sair do país, porque a própria Pátria não faz nada por eles. Nem queremos ouvir que ficar desempregado é uma oportunidade de vida.

É preciso um radicalismo de sensatez, um radicalismo social.
Porque já não aguentamos mais.
Já não aguentamos!

A incompetência não pode ser um atestado de confiança em Portugal. A incompetência tem de ser punida através do derrube desta corja corrupta, assassina e ultra-liberal que mete os bancos à frente das vidas.

E fiquem cientes de que quem vos fala aqui deste lado não é um manifestante de Internet e sofá.


Não te cales. Fala em casa, no trabalho, no café. Faz-te à rua. Defende o que é teu. Nosso!