terça-feira, 21 de dezembro de 2010

The Hollow Art Of Following

Idealistic fool
Puppet tool
Ain't you grateful?
Stupid null

Dull brain
Greed gain
Blood will drain
Through pain

Valid creed?
Full speed!
Glorious deed
Poisoned seed

Lying is fun
Tricks are done
Jokes have won
God's gun

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Simbiose

Concentrei-me no vómito que tinha acabado de expulsar. Nada de mais. Arroz, restos de bife de vaca e no meio do cheiro nojento sentia um pouco da pimenta e dos coentros com que tinha temperado a carne.

Acordei com umas cólicas terríveis que nunca tinha sentido em vinte e poucos anos de existência, salvo os primeiros anos de vida que, obviamente, não tenho qualquer memória. Ao levantar-me da minha cama fui directo ao quarto-de-banho agarrado à barriga e curvado. Enquanto procurava o interruptor apercebi-me que os meus músculos rectais tinham cedido às ordens do cérebro e a sujidade foi inevitável.

À garganta subiu um líquido pestilento e azedo e não me contive. Ainda não estava de joelhos com a cabeça enfiada na sanita e já sentia a boca cheia de comida mal digerida. Depois de inspeccionar o arroz e a carne empestada nas paredes de porcelana, ganhei algum fôlego e encostei-me à parede.

Levantei-me e bebi um pouco de água. Recomeçaram as convulsões estomacais e agarrei-me ao lavatório com uma força descomunal devido às dores diabólicas que tempestavam dentro de mim. Senti nitidamente os músculos e nervos do pescoço e garganta a contraírem-se de forma sofrida e compulsiva. Mais um vómito! Era uma pasta avermelhada e bastante compacta - dessa concentração provinha um odor altamente tóxico com uma pitada a marisco em fase degradante. Algumas bolhas começaram a formar-se e, posteriormente, a rebentar. Ploc, ploc! Das bolsas de ar estoiradas surgiram larvas: umas mais minúsculas que outras, mas a rabear intensamente! O medo apoderou-se de mim e o corpo ficou trémulo.

O meu estômago começou a bombear como um coração repleto de taquicardia. Comecei a tossir repetidamente com alguns salpicos de sangue a pintar o chão. Caí e, automaticamente, as minhas mãos colaram-se ao peito como se a querer tirar algo que estava colado. Senti um ardor infernal pelo esófago acima e a boca cheia de sangue. Da minha boca apareceu uma pequena cauda a rodopiar pelos meus lábios. Puxei, gritei, puxei, berrei, puxei, chorei, puxei, afoguei-me e puxei.

Era fino como um lápis na ponta inferior e tornava-se mais grosso à medida que o corpo se formava até à cabeça redonda, sem olhos e finalizada com um orifício pouco maior do que uma unha de tamanho normal. Estava praticamente sem sentidos, imundo de sangue e vómito. Ainda levantei um pouco a cabeça e vi o ser mais horripilante à face da Terra. Ergueu-se e, sem mais demora, perfurou-me o abdómen. De pouco mais tive percepção, apenas os meus órgãos a serem devorados em pouco menos de dois segundos.

domingo, 12 de dezembro de 2010

A Espera

Vês-te em pé no meio da cozinha. Mesmo no ponto mediano como se as medidas tivessem sido tiradas com perfeita precisão. Esfregas as mãos transpiradas e sem atrito, mas acabas por passá-las nas calças de ganga para as secar. Irritam-te as mãos demasiado macias, igualmente sem atrito, mas não é o caso; estão mesmo encharcadas e os piores suores são aqueles que aparecem através do nervosismo. A camisola já é um peso a mais no corpo que te atrofia a respiração que começa a ser veloz e sem ritmo controlável. Não páras de olhar para o relógio: tanto o de pulso como o de parede. Parece que tens medo de um certo momento que pode chegar e não sabemos qual e quando ou, então, sentes-te obcecado pelos três ponteiros que têm de estar no mesmo raio à mesma hora.

Ainda não deste um único passo, a tua localização é a mesma: no centro e de costas para a porta. Finalmente, ouves barulho na escadas - são saltos altos - e sabes que quem vem tem a possibilidade de entrar no teu apartamento. Continuas sem te mexer. Do molho de chaves que a personalidade vindoura possui, ouves que uma delas penetrou a fechadura e iniciou o exercício que o canhão executa para abrir uma porta. Mais passos.

É uma mulher, os saltos altos a subir as escadas não te enganaram. Tremes. Há, no ar, uma mistura de perfume baseado em rosas e um cheiro intenso a tabaco. Ela aproximou-se do teu ouvido e disse-te "já está". Contornou-te e no momento em que expiraste, algo que era interno deixou de ser. As vossas bocas estavam francamente próximas. A última réstia de esperança foi sugada.

Caíste e nunca mais te mexeste.