sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Apaixonei-me dentro da mala de um carro - Parte I

Quando: Sexta-feira, 04h 32m
Onde: à porta de casa

Tinha acabado de sair de um táxi qualquer conduzido por um daqueles taxistas que fala muito e nunca percebe quando um gajo está todo bêbado e mal se atreve a falar. Mas eles falam e falam e falam e tu só moves a cabeça e dizes algumas palavras enroladas. O taxímetro marcava 9,70€. Ergui as ancas quando ainda estava sentado para conseguir tirar a carteira do bolso de trás das calças. Tinha uma nota de 10€ e uns trocos em moedas. Dei a nota ao taxista, mas pedi para que não me desse o troco imediatamente uma vez que tinha as tais moeditas, assim dar-lhe-ia 20 cêntimos e ele iria dar-me troco redondo de 50 cêntimos. Foi muito complicado enxergar os tamanhos e pequenos números das moedas castanhas de 5, 2 e 1 cêntimos, mas não desisti.

Saí.

Andei cerca de 3 minutos até chegar à porta de casa. Geralmente, quando volto num táxi, peço para me deixar na rotunda da Estrada Nacional. Sempre são uns cêntimos que poupo para uma cerveja ao outro dia e faz-me bem apanhar ar enquanto caminho durante esses cerca de 3 minutos - mais coisa, menos coisa... para o caso é igual ser carne ou peixe.

Estou à frente da minha casa.

Respiro profundamente e estico a coluna. Meto a mão ao bolso à procura das chaves. Encontro um papel. Um número de telemóvel. "E agora? Será da loira ou da morena?"
Ouvi umas vozes a ecoar na rua, cada vez mais perto. Eram dois homens. Ainda não lhes conseguia ver a cara. Eram o dobro de mim, isso era certo! Neste momento já estavam mesmo perto de mim.

"Então, amigo? Está complicado?"
E riram-se.

Quis responder, mas o estômago já não deixava. Tentei apressar-me a sacar das chaves. Não adiantou ter medo. Numa fracção de segundos senti uma mão tocar-me entre a nuca e o pescoço e através da visão alcoolicamente turva vi a porta da minha casa ficar cada vez mais perto dos meus olhos.

Caí.
Fui atado.
E puxado.

(Ainda) Não estava completamente inconsciente.
Despejaram-me na mala de um carro que tinha acabado de ser ligado.

Mal eu sabia que naquela noite/manhã me iria apaixonar.
Na mala de um carro.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Ainda estou para ver chegar o dia em que...

Ainda estou para ver chegar o dia em que um patrão que recebe 20.000€ por mês e viva de forma confortável tire 5.000€ e distribua pelos empregados mais carenciados; aquele que tem a mulher desempregada, aquele que tem a casa para acabar de pagar porque os 485€ + subsídio de alimentação não chegam e se não pagar, o banco tira-lhe a casa e vai para o olho da rua, aquele que fez um mau investimento na perspectiva de uma vida melhor e agora trabalha como um escravo para se safar dos bosses que vão estar sempre prontos a cortar-lhe as pernas, etc, etc, etc... Se não parar por aqui, nunca mais paro.

A culpa não é propriamente dos governos. Ser governante é difícil e ingrato. Mas não esqueçamos os deputados que estão nos cantos e topos do Parlamento a ver e-mails, capas de jornais e atender telefones. Tanto faz lá estar o Sócrates, o Durão, o Guterres, o Zé, o Tó, o Jaquim, o Manel... Eles vão ser sempre lapidados. É isso que me chateia no povinho tuga! Nunca estão bem com nada, não param para pensar e só sabem ladrar para meter abaixo. Seja quem lá for que esteja. É tão certo como a água ser diferente do vinho. (Ainda bem que a Manela das Piquenas e Médias Empresas tirou da cabeça que sabia discursar e fazer Política.)

A culpa é dos que se queixam por tudo e por nada. A culpa é dos que ganham o suficiente para viver e continuam a não fazer nada para que isto melhore. A culpa é dos que falam mal dos Ucranianos, Moldavos e Kosovares que assentam tijolo e limpam retretes, mas o português não o quer fazer. A culpa é daqueles que preferem ir ao Chinês em vez de ajudar a vizinha que tem uma mercearia. A culpa é dos que preferem ganhar o rendimento mínimo e estar em casa a coçar os tomates em vez de aproveitarem a pouca oferta de trabalho que lhes possam fazer. A culpa também é daqueles que atribuem o rendimento mínimo a qualquer um sem um estudo prévio da situação. A culpa é daqueles que fizeram um buraco na Segurança Social. A culpa é daqueles que acabaram com as pescas e a agricultura, porque queriam fazer de Portugal uma estância turística. A culpa é daqueles que cospem no prato onde comeram. A culpa é dos sabichões que vendem gato por lebre. E mais havia a dizer! Como diz José Mário Branco: "há culpa de todos em geral e não há culpa de ninguém em particular." Ora nem mais! Ganda Zé Mário, caralho!

Só se lembraram do Caso Freeport quando o Sócrates se recandidatou. Agora, só se lembram do BPN com as Eleições Presidenciais. Jogos, meu/minha caro/cara! Há milhares de pessoas que ficaram sem um único tostão, houve centenas deles que vieram para a rua perguntar pelas suas poupanças e foram dominados pela Polícia. E agora é que se lembram do BPN? Onde já se viu um presidente de um banco faltar à audição do Parlamento, porque se tinha distraído nas datas e já tinha compromissos? É gozar connosco ou não é? Cocktails de Molotov e vidros partidos e casarões roubados! Assim é que devia ser! Ah, mas calma!!! O pobre que rouba um pão para comer é ladrão e vai preso, o rico não rouba, só desvia (para amaciar) e ainda foge para o Brasil. (Não quero com isto dizer que todo o pobre é santo, mas infelizmente também não conheço ricos santos.)

Não vai ser o próximo Primeiro-Ministro que vai resolver isto. Muito menos o próximo Presidente da República. Tanto faz lá estar O-Que-Acabou-Com-As-Pescas-E-Agricultura-E-Fodeu-Isto-Tudo, como o Poeta, como o Médico, como o Comuna-Que-Ninguém-Conhece, como o Desconhecido-de-Viana, como o Zé-Ninguém-Das-Ilhas.

Isto só lá vai com peste e fome. Isto só lá vais quando os primeiros corajosos dispararem os primeiros tiros (nem que seja nas suas próprias cabeças). Isto só lá vai com ajuntamentos e pequenos atritos aqui e ali.

O grande problema é que a Europa já não é um continente com vários países. A Europa é um país que não se sabe governar.