domingo, 16 de setembro de 2012

Queremos as nossas vidas!

O dia 15 de Setembro de 2012 foi dia de sair à rua e, apesar, da descentralização decidi centralizar-me e ir de Aveiro até aos Aliados, no Porto. Deixei, de certo, bons companheiros de marcha em Aveiro e parte de mim ficou triste por não partilhar esse momento com eles e elas, mas o local mais central da minha região chamava por mim. Eu queria estar onde estivesse mais gente e unir a minha voz individual à colectiva de 150 mil manifestantes.

Sou apartidário. Apartidário com noções de Esquerda, mas com a ciente intenção de aplaudir o que acho estar bem feito, quer seja rosa, laranja, vermelho ou azul. Não sei até que ponto é "legal" um apartidário ter noções de Esquerda ou Direita, mas se não o for, no meu caso passa a ser.

Cheguei a São Bento às 16.25 e pelas 17.20 (já nos Aliados) comecei a temer o pior: nem metade da avenida estava composta. No entanto, num abrir e fechar de olhos, já se viam bandeiras lá ao longe, na parte mais baixa da avenida e o entusiasmo cresceu. Eu estava ali, eu fiz parte daquilo.
Depois de ter dado a volta de honra, chamemos-lhe assim, à avenida, decidi juntar-me aos que ouviram as dezenas de populares. Senti que estávamos todos a remar para o mesmo lado e não foram só palavras de Zé Povinho (porque nós não somos ignorantes), ouviram-se ideias e palavras de ordem concretas.

Eu luto todos dias de forma individual. Na rua, no emprego e em casa (neste último espaço não chamarei luta, mas sim partilha de ideias visto que estamos todos do mesmo lado). Muitas vezes sozinho, sem o apoio deste ou aquele amigo/colega, mas não me vou abaixo. A Internet também é espaço de luta.

Uni a minha voz e a minha marcha a 150 mil pessoas (1 milhão em todo o país) contra estas medidas usurpadoras, esta declaração de guerra à classe trabalhadora. Estamos pacíficos e fomos para a rua de forma pacífica apesar de o governo ter perpetrado um pacto de agressão contra a Nação. Temos sido pacíficos e ordeiros, mas até quando? Isso é o que se vai ver....
Tivemos um Rei que lutou contra a própria mãe e fundou um reino, demos-nos ao luxo de dividir o mundo com Espanha, tivemos uma Guerra Civil entre irmãos que nos salvou do Absolutismo, expulsámos qualquer ameaça estrangeira vinda de Espanha, França e Inglaterra. Por fim, e mais recente, derrubámos uma Ditadura.
Estamos à espera de quê, Portugueses? Do D. Sebastião e do Quinto Império? O D. Sebastião somos nós!

O meu pai nasceu em 1958, trabalha desde os 9 anos e desconta desde os 14. Foi militar, bombeiro e é operário cerâmico há mais de trinta anos. Vou vê-lo a trabalhar até aos 65 anos e a ficar com cada vez menos ao fim do mês. Como ele há milhares! Vítimas deste ataque neo-liberal, assassinados por uma política experimentalista que não vai trazer emprego, nem competitividade.

Eu sou informático, não sou economista; sou um leigo nessa matéria, mas tenho uma visão partilhada por muitos. Este governo é o único que não percebe que sem consumo, a economia não mexe. Se tiram o poder de compra ao Povo, o dinheiro não mexe, não há consumo. Se não há consumo, as empresas não trabalham e os empregados passam a ser desnecessários. É assim tão difícil?
Ainda não houve uma política de solidariedade! Nem uma! Nem ao menos um corte de 10% nos próprios salários. Não... O Povo trabalhador que desconte mais 7% e nem sabe para onde o dinheiro vai.
Para que raio precisam de tantos carros? É por causa dos protocolos que têm com as empresas automóveis? Que os rasguem. Que vão para o Parlamento no seu próprio transporte ou em transportes públicos como em Inglaterra. E os subsídios de representação ou representatividade ou lá como se chama... Que vergonha é essa? E mais X dinheiro que lhes entra na conta por estarem a exercer mandato longe da terra natal? Os professores que vão do litoral para o interior, do sul para o norte e tudo em vice-versa têm que pagar do próprio bolso e ainda são agredidos pelos alunos e, consequentemente, pelos pais dos alunos.
Estão sentados ali no Parlamento a resolver a vida pessoal deles, são deputados e administradores, directores e/ou subs de uma qualquer empresa; têm tacho a dobrar e ainda gozam de uma reforma vitalícia.

Devia ser exigido o levantamento da imunidade política e serem julgados em modo blitzkrieg. Todos eles! Os do passado e os do presente.
Não têm sido mais do que traidores! Todos eles! Traidores!

Somos cúmplices de traidores, porque nos temos mantido impávidos e serenos. Somos cúmplices devido aos resultados das urnas. E volto a falar do levantamento da imunidade política: o julgamento não pode ser apenas feito no acto eleitoral, tem de ser no tribunal.
Temos sido cúmplices, mas vamos deixar de o ser. Que muitos dias 15 de Setembro aí venham, com mais gente e mais barulho. Isto não pode acontecer só porque uma medida de austeridade foi discursada. Isto tem de acontecer sempre e mais vezes em actos espontâneos. Tem que haver muitos sábados destes! É urgente!

Para a rua com traidores!
Somos Portugal!