A União Europeia, enquanto comunidade, e a união
monetária enquanto poderio financeiro europeu, foram criados para a existência
de uma maior coesão e cooperação sócio-económica; por outro lado, numa
perspectiva mais conspiradora, a moeda única teve, no início dos anos 90, o
propósito de travar uma super-Alemanha reunificada. Desde, pelo menos, 2007,
toda essa visão começou a ser posta em causa devido à crise instalada nos
países do sul, bem como na Irlanda e na Islândia, estando esta última fora da
UE. Abrindo um parêntesis, começou a provar-se recentemente que a salvação da
Islândia passou por não fazer parte da UE e do Euro, uma vez que puderam
desvalorizar a moeda, fechar fronteiras e actuar judicialmente sem prestar
justificações a uma entidade exterior, imaginando essa entidade, como por
exemplo, a Comissão Europeia.
Tendo em conta essa visão de coesão europeia,
acredito que quando se começou a arquitectar o processo, não se pensava que a doutrina
da escola de Chicago – teoria neoliberal – acabasse por triunfar em solo
europeu, uma vez que vários governos dos anos 1970 e 1980 acusaram essa teoria
de antidemocrática. Assim sendo, os criadores dessa doutrina económica
viraram-se para países de índole fascista da América do Sul e Turquia, onde esta
triunfou. Mesmo assim, o neoliberalismo começou a ganhar grande terreno na
Europa aquando da reunificação das Alemanhas, em que o Capitalismo da RFA,
protegida pelos EUA, venceu o Socialismo Comunista da RDA, protegida pela URSS
que de seguida se desmoronou. A Treuhand - mecanismo que privatizou a economia
da extinta RDA - é o grande estandarte do neoliberalismo do início da década de
1990, na Europa. No entanto, há que reter que, apesar de eu ter afirmado acima
que vários governos europeus recusaram estes princípios neoliberais, Margaret
Thatcher – a conhecida Dama de Ferro – instalou esta política, no Reino Unido, na
década de 1970. Resumindo: temos a recusa europeia inicial, as primeiras
implementações através do governo Britânico, a vitória liberal após a queda das
nações comunistas e a crise instalada que só beneficia o chamado “1%”. Posto
isto, é possível que alguns dos impulsionadores da moeda Euro já tivessem
retido na sua mente o descalabro social e económico que explodiu em 2007.
Esquecendo a fragilidade alemã após a II Guerra
Mundial, a História conta-nos sobre a facilidade germânica em erguer-se da
ruína e, consequentemente, é esse país que, actualmente, lidera os destinos do
continente Europeu. De facto, o ideal europeu não passa por ter um «comandante
supremo» que acaba por ofuscar os possivelmente mais fracos, já que o plano é,
realmente, erradicar fortes e fracos juntando-os num só plano de cooperação com
vista no crescimento de um todo. A ideia inicial de que o Euro iria colocar
todos os países ao mesmo nível é terrivelmente errada como podemos observar nos
dias que correm, isto é, os países que foram melhor geridos, mais industrializados
e que já no passado tinham uma moeda forte continuam, agora, mais poderosos do
que aqueles que tiveram sucessivos fracos governos, eram/são, supostamente,
menos industrializados e mais virados para a agropecuária e que anteriormente
tinham uma moeda menos forte. Insere-se a Alemanha, França e Reino Unido (que
mantém a Libra Estrelina) no «grupo dos fortes» e Portugal, Espanha, Itália e
Grécia no «grupo dos fracos».
Com a perda da soberania nacional nos países sob
domínio da troika, é expectável que a viabilidade do Euro comece a ser
questionada, uma vez que todo o processo e pensamento inicial está a levar
outro rumo. É aqui que entra a ideia de federalismo europeu: um mega Estado com
uma moeda única forte. Esse planeado super-Estado resume-se, actualmente, a
discrepâncias sócio-económicas entre nações e dívidas que não param de crescer
sob juros exorbitantes.
Devido às diferenças que deviam ter sido
eliminadas com a implementação da UE e da moeda Euro, há já quem pondere
abandonar essa estrutura. Contudo, essa posição é tomada de forma insensata,
visto que toda a construção desta sociedade única é de carácter irreversível.
Afirmando esta irreversibilidade, as constantes ameaças de que a Grécia poderá
ser expulsa ou que Portugal tem de começar a pensar em abandonar o grupo cai em
saco roto. Porquê? Porque todas as semanas se conhecem novas condições e
possíveis perdões para a crise grega, bem como para Portugal, ainda que num
plano menos agressivo, mas visivelmente austero. É com estas afirmações que
também se põe em causa a viabilidade da expressão «viabilidade do Euro».
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