sábado, 5 de janeiro de 2013

A implementação do Neoliberalismo e a viabilidade do Euro

A actual crise financeira e económica gera, na Europa, diversos níveis de forte impacto. Estarão em risco o "modelo europeu" e a viabilidade do Euro?

A União Europeia, enquanto comunidade, e a união monetária enquanto poderio financeiro europeu, foram criados para a existência de uma maior coesão e cooperação sócio-económica; por outro lado, numa perspectiva mais conspiradora, a moeda única teve, no início dos anos 90, o propósito de travar uma super-Alemanha reunificada. Desde, pelo menos, 2007, toda essa visão começou a ser posta em causa devido à crise instalada nos países do sul, bem como na Irlanda e na Islândia, estando esta última fora da UE. Abrindo um parêntesis, começou a provar-se recentemente que a salvação da Islândia passou por não fazer parte da UE e do Euro, uma vez que puderam desvalorizar a moeda, fechar fronteiras e actuar judicialmente sem prestar justificações a uma entidade exterior, imaginando essa entidade, como por exemplo, a Comissão Europeia.

Tendo em conta essa visão de coesão europeia, acredito que quando se começou a arquitectar o processo, não se pensava que a doutrina da escola de Chicago – teoria neoliberal – acabasse por triunfar em solo europeu, uma vez que vários governos dos anos 1970 e 1980 acusaram essa teoria de antidemocrática. Assim sendo, os criadores dessa doutrina económica viraram-se para países de índole fascista da América do Sul e Turquia, onde esta triunfou. Mesmo assim, o neoliberalismo começou a ganhar grande terreno na Europa aquando da reunificação das Alemanhas, em que o Capitalismo da RFA, protegida pelos EUA, venceu o Socialismo Comunista da RDA, protegida pela URSS que de seguida se desmoronou. A Treuhand - mecanismo que privatizou a economia da extinta RDA - é o grande estandarte do neoliberalismo do início da década de 1990, na Europa. No entanto, há que reter que, apesar de eu ter afirmado acima que vários governos europeus recusaram estes princípios neoliberais, Margaret Thatcher – a conhecida Dama de Ferro – instalou esta política, no Reino Unido, na década de 1970. Resumindo: temos a recusa europeia inicial, as primeiras implementações através do governo Britânico, a vitória liberal após a queda das nações comunistas e a crise instalada que só beneficia o chamado “1%”. Posto isto, é possível que alguns dos impulsionadores da moeda Euro já tivessem retido na sua mente o descalabro social e económico que explodiu em 2007.

Esquecendo a fragilidade alemã após a II Guerra Mundial, a História conta-nos sobre a facilidade germânica em erguer-se da ruína e, consequentemente, é esse país que, actualmente, lidera os destinos do continente Europeu. De facto, o ideal europeu não passa por ter um «comandante supremo» que acaba por ofuscar os possivelmente mais fracos, já que o plano é, realmente, erradicar fortes e fracos juntando-os num só plano de cooperação com vista no crescimento de um todo. A ideia inicial de que o Euro iria colocar todos os países ao mesmo nível é terrivelmente errada como podemos observar nos dias que correm, isto é, os países que foram melhor geridos, mais industrializados e que já no passado tinham uma moeda forte continuam, agora, mais poderosos do que aqueles que tiveram sucessivos fracos governos, eram/são, supostamente, menos industrializados e mais virados para a agropecuária e que anteriormente tinham uma moeda menos forte. Insere-se a Alemanha, França e Reino Unido (que mantém a Libra Estrelina) no «grupo dos fortes» e Portugal, Espanha, Itália e Grécia no «grupo dos fracos».

Com a perda da soberania nacional nos países sob domínio da troika, é expectável que a viabilidade do Euro comece a ser questionada, uma vez que todo o processo e pensamento inicial está a levar outro rumo. É aqui que entra a ideia de federalismo europeu: um mega Estado com uma moeda única forte. Esse planeado super-Estado resume-se, actualmente, a discrepâncias sócio-económicas entre nações e dívidas que não param de crescer sob juros exorbitantes.

Devido às diferenças que deviam ter sido eliminadas com a implementação da UE e da moeda Euro, há já quem pondere abandonar essa estrutura. Contudo, essa posição é tomada de forma insensata, visto que toda a construção desta sociedade única é de carácter irreversível. Afirmando esta irreversibilidade, as constantes ameaças de que a Grécia poderá ser expulsa ou que Portugal tem de começar a pensar em abandonar o grupo cai em saco roto. Porquê? Porque todas as semanas se conhecem novas condições e possíveis perdões para a crise grega, bem como para Portugal, ainda que num plano menos agressivo, mas visivelmente austero. É com estas afirmações que também se põe em causa a viabilidade da expressão «viabilidade do Euro».

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