quarta-feira, 28 de maio de 2025

A Decadência

(Escrito em dezembro de 2022,
reorganizado e livre de heterónimos em dezembro de 2024)
(contém linguagem ofensiva)


Já dizia o poeta que na hora da trova todo o medo estorva. Que poeta? Nenhum poeta, pá! Fui eu quem disse isto, agora mesmo.

Eu, estudioso inveterado da decadência pós-isto, pós-aquilo e do caralho que vos foda, namorado do vernáculo, prometido do álcool e noivo do vínculo à morte certa que me escapa, pelo menos até ontem e até este momento.

Chorem as putas e os pobres, as amantes e as comadres, os snobes dum raio e as elites da merda. Mas riam também, seus burros de carga da sensibilidade oca – riam de quem está ainda mais fodido, não tenham medo de ser cancelados. Até porque cancelados estamos desde que nascemos – a morte é o objetivo da vida.

A decadência não é mais do que rir da desgraça do outro e no fim, sozinhos na cama, à noite, no escuro, choramos como desalmados porque também somos uns desgraçados de merda que nos pavoneamos na rua, mas a sopa é comida na solidão e a punheta não há quem a bata a não ser nós próprios. Ou então choras tu, que eu cá não verto uma lágrima. Que se fodam as lágrimas e a solidão, quero é risota e farra até de manhã! E para quê? Para passado umas horas acordar sozinho, cheio de dores, boca seca como uma cona frígida e ser um roto como qualquer outro sobre quem aqui mal estou a falar.

Ai a decadência, essa mula velha que teima em querer voltar a levantar-se. Chorem para aí, espantalhos esburacados pelos bicos do consumismo, virem até a página e emocionem-se com tristezas bacocas.

Eu cá vou beber até cair, contar histórias aparvalhadas, gozar com os cocainados que já nem têm nariz e rebaixar os ignorantes, esses abençoados do desconhecimento que vão viver mais anos do que eu porque não pensam em lá grande coisa, só nos cinco cêntimos de nada que trazem no bolso sem fundo.

Fodam-se, que eu também me fodo.


(28/12/2024)

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