quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Fernando Ulrich e os lucros do BPI

Fernando Ulrich, um dos bois... perdão... boys do nosso país, presidente do BPI, veio ontem a público vangloriar os lucros do banco em 2012. Pois é, 249 milhões de euros, em que 160 milhões de euros são fruto da compra de dívida pública portuguesa - mais de metade dos lucros totais, portanto. Montante esse que faz parte dos famosos 15 mil milhões de euros que a banca lucrou também em 2012 - ver post sobre esse assunto.

Fernando Ulrich ficou também famoso pelas declarações escabrosas em relação aos desempregados e em relação à austeridade.

A 18 de Outubro de 2012, em plena RTP, Ulrich afirma que os desempregados que estão em casa sem fazer nada e a ganhar o subsídio deviam trabalhar de borla para grandes empresas como EDP, PT, Sonae, Jerónimo Martins e, claro, BPI. Alguém se lembra? Se não se lembram, cá estou eu para vos recordar. «Actividade socialmente útil», diria Pedro Mota Soares.

Sem estar, aparentemente, contente com essas declarações, a 2 de Novembro, afirma que os portugueses aguentam com mais austeridade. «Ai aguenta, aguenta!», disse Ulrich. E cá estamos a fazer por aguentar enquanto a banca lucra. Cá estamos a levar com uma carga fiscal brutal enquanto o Banif recebe 1.1 mil milhões do Estado e depois usa 700 milhões de euros para comprar dívida pública portuguesa neste último regresso aos mercados - ver post sobre esse assunto. Cá estamos a ver o nosso salário a descer enquanto senhores como Ulrich acham que só devem investir no país quando alguém lhes diz que esse mesmo país lhes dá mais confiança agora - claro, a receber dinheiro do BCE a 0.75% de juros e depois comprar dívida pública portuguesa com juros a quase 5%...

Senhoras e senhores, ainda vos custa muito perceber que o nosso problema está na banca?

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Lei Contra a Precariedade e a hipocrisia parlamentar

Hoje foi um dia importante na nossa História. Pela segunda vez na História da nossa Democracia, foi levado a debate e votação, na Assembleia da República, uma proposta de lei de índole cívica. A Lei Contra a Precariedade enquadra-se numa Iniciativa Legislativa de Cidadãos subscrita por 40.000 pessoas.

Não vou explicar o conteúdo desta proposta, visto que o meu objectivo aqui não é esse, mas forneço o link onde está tudo o que precisam de saber. Não deixem de visitar se querem estar informados. ( http://leicontraaprecariedade.blogspot.pt )

Acompanhei os trabalhos na AR aquando do debate sobre esta proposta e, infelizmente, não ouvi nada de novo. Até à data da conferência de imprensa do movimento, no passado dia 22 de Janeiro, na escadaria da AR, sabia-se que BE, PCP e PEV votariam a favor, PSD e CDS-PP não se pronunciaram, pois defenderam que não podiam desvendar a sua posição, e o PS, simplesmente, não acedeu ao pedido de audição por parte deste movimento cívico ("Qual é a pressa?", diria Seguro).

Uma das vozes mais combativas foi Rita Rato (PCP) em que várias vezes houve a tentativa, por parte dos partidos que apoiam o governo, de a abafar. Na teoria e na retórica, os partidos de direita foram derrotados durante o debate, contudo, o problema é a prática - mas já lá vamos.

Nesta iniciativa pede-se, essencialmente, dignidade no trabalho: a denúncia dos falsos recibos verdes, modificação dos contratos a prazo e luta contra o trabalho temporário. Neste último plano, uma das grandes crises é, precisamente, o facto de a empresa empregadora ficar com parte do salário do trabalhador - eu sou uma dessas pessoas.

Ora, os deputados do PSD e CDS-PP fartaram-se de congratular o movimento, mas em breves segundos, nas suas primeiras intervenções deixaram clara a sua posição. Noutras palavras quiseram dizer o seguinte: "ah e tal, respeitamos a Democracia que promove este tipo de iniciativa, mas agora vão ter que respeitar o que decidimos aqui." Um redondo não, um voto contra. Noutro momento, um senhor deputado do PSD disse que neste tempo de crise não era nada bom modificar a situação através de medidas radicais. Vá lá, não usou a palavra «extremistas».

O PS que pouco falou e nada de novo explicou, lá surgiu, através da deputada Inês de Medeiros, com a ideia de baixar a questão à especialidade e, assim, haverá fumo branco à moda deles. Uma qualquer lei que pareça igual à proposta, mas que deturpa o âmago da intenção. Obviamente que, como outras bancadas, o PS saudou efusivamente a Iniciativa Legislativa de Cidadãos. Valeu-lhes dum grosso...

E é assim... Pensam que a iniciativa vai cair no esquecimento, mas não, não vai! Se alguns perguntavam para quê uma nova manifestação nacional no próximo dia 2 de Março, aqui têm o mote!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A histeria do regresso aos mercados

Os media foram inundados pela histeria de que Portugal regressou aos mercados. Até aí tudo bem: regressámos aos mercados e conseguiu-se isso através de baixos juros, pouco menos de 5%. Mas vamos ver quem fica a ganhar e quem fica a perder (ou, na melhor das hipóteses, continuar como se está).

Para os tecnocratas como Vítor Gaspar ou para os lambe-botas como Passos Coelho, estes 2.5 mil milhões de euros em títulos da dívida que foram emitidos é uma coisa magistral. É bom para Portugal? Podemos dizer que sim, pelo menos, um bocadinho - para não ser sempre do contra. É preciso mostrar que estamos mais credíveis e, por isso, somos um país onde se pode investir (neste caso, na dívida pública).

Mas e o resto? Vamos continuar subjugados ao poder estrangeiro e ao seu capital. Esta forma de ir aos mercados também significa perda de soberania - como se já não bastasse a que temos perdido nos últimos 2 anos.

Mas ainda há mais! Regressar aos mercados revelou-se um pão sem miolo, um refrigerante sem gás ou uma navalha por afiar. Simplesmente, porque regressar aos mercados não nos dá emprego, nem pão para a boca. Emitir títulos da dívida não baixa os impostos, nem mete na cadeia os magnatas do BCP, BPN ou Banif.

Resumindo, esta foi, até agora, a grande vitória do governo - ou assim pensam eles. Vangloriam-se com pouco e nós queremos mais! Mais empenho e mais transparência.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Os 15 mil milhões e a nossa imagem no exterior


A realidade é esta: os bancos lucraram 15 mil milhões de euros com dívida pública em 2012. A par desta enormíssima afronta contra um país desolado pelas discrepâncias sociais, ainda temos os famosos 1,1 mil milhões de euros que servem para recapitalizar o Banif que, segundo se sabe, é praticamente o dobro daquilo que o privado e pequeno banco vale, isto é, 570 milhões de euros. Pior ainda é o Estado ser uma mera injecção de capital sem visível poder futuro nesse antro de ladrões.

A verdade é que o Banco Central Europeu emprestou dinheiro, sob baixos juros, a esses bancos com a intenção de conceder crédito a famílias e empresas. Resolução: os ditos utilizaram esse dinheiro para comprar dívida pública e assim lucrar 15 mil milhões de euros.

Ora, num país que já pouco falta para chegar aos 20% de desemprego, num país em que já há famílias a passar fome, num país em que já há estudantes universitários que não conseguem pagar as propinas, como é possível a ganância superar todos os instintos socais e cooperativos? Como é possível executarem-se medidas de austeridade profunda quando há banqueiros a encher os cofres? Como é possível recorrer ao populismo fácil de que a culpa é de quem recebe este ou aquele subsídio quando, na verdade, os buracos mais fundos são criados pela banca?

O actual governo preocupa-se com a imagem de Portugal no estrangeiro, mas essa imagem é traduzida em números que lhes são favoráveis. Pelos vistos, os quase 20% de desemprego não são importantes quando o rácio banqueiro estiver ao nível da restante UE. Não há problema que famílias passem fome, porque afinal temos ministros a passar o réveillon no Brasil. Ou autarcas com as suas esposas e amigos a festejar um casório de alguém, também no Brasil. Isso é que é a imagem importante: ainda há quem tenha poder! A criança que tomou um pacote de leite na escola e não jantou que se foda.

A imagem que temos de passar lá para fora é igual à do 15 de Setembro de 2012. A imagem que temos de passar é que podemos ser mais fortes do que o medíocre sistema judicial a que estamos subjugados. A imagem que temos de passar é que somos humildes e trabalhadores, mas não somos patetas - pelo menos, os que estão do lado de cá da barricada.

A derradeira imagem a passar para além fronteiras é pura e simplesmente a nossa veia soberana onde quem manda são os Portugueses.

sábado, 5 de janeiro de 2013

A implementação do Neoliberalismo e a viabilidade do Euro

A actual crise financeira e económica gera, na Europa, diversos níveis de forte impacto. Estarão em risco o "modelo europeu" e a viabilidade do Euro?

A União Europeia, enquanto comunidade, e a união monetária enquanto poderio financeiro europeu, foram criados para a existência de uma maior coesão e cooperação sócio-económica; por outro lado, numa perspectiva mais conspiradora, a moeda única teve, no início dos anos 90, o propósito de travar uma super-Alemanha reunificada. Desde, pelo menos, 2007, toda essa visão começou a ser posta em causa devido à crise instalada nos países do sul, bem como na Irlanda e na Islândia, estando esta última fora da UE. Abrindo um parêntesis, começou a provar-se recentemente que a salvação da Islândia passou por não fazer parte da UE e do Euro, uma vez que puderam desvalorizar a moeda, fechar fronteiras e actuar judicialmente sem prestar justificações a uma entidade exterior, imaginando essa entidade, como por exemplo, a Comissão Europeia.

Tendo em conta essa visão de coesão europeia, acredito que quando se começou a arquitectar o processo, não se pensava que a doutrina da escola de Chicago – teoria neoliberal – acabasse por triunfar em solo europeu, uma vez que vários governos dos anos 1970 e 1980 acusaram essa teoria de antidemocrática. Assim sendo, os criadores dessa doutrina económica viraram-se para países de índole fascista da América do Sul e Turquia, onde esta triunfou. Mesmo assim, o neoliberalismo começou a ganhar grande terreno na Europa aquando da reunificação das Alemanhas, em que o Capitalismo da RFA, protegida pelos EUA, venceu o Socialismo Comunista da RDA, protegida pela URSS que de seguida se desmoronou. A Treuhand - mecanismo que privatizou a economia da extinta RDA - é o grande estandarte do neoliberalismo do início da década de 1990, na Europa. No entanto, há que reter que, apesar de eu ter afirmado acima que vários governos europeus recusaram estes princípios neoliberais, Margaret Thatcher – a conhecida Dama de Ferro – instalou esta política, no Reino Unido, na década de 1970. Resumindo: temos a recusa europeia inicial, as primeiras implementações através do governo Britânico, a vitória liberal após a queda das nações comunistas e a crise instalada que só beneficia o chamado “1%”. Posto isto, é possível que alguns dos impulsionadores da moeda Euro já tivessem retido na sua mente o descalabro social e económico que explodiu em 2007.

Esquecendo a fragilidade alemã após a II Guerra Mundial, a História conta-nos sobre a facilidade germânica em erguer-se da ruína e, consequentemente, é esse país que, actualmente, lidera os destinos do continente Europeu. De facto, o ideal europeu não passa por ter um «comandante supremo» que acaba por ofuscar os possivelmente mais fracos, já que o plano é, realmente, erradicar fortes e fracos juntando-os num só plano de cooperação com vista no crescimento de um todo. A ideia inicial de que o Euro iria colocar todos os países ao mesmo nível é terrivelmente errada como podemos observar nos dias que correm, isto é, os países que foram melhor geridos, mais industrializados e que já no passado tinham uma moeda forte continuam, agora, mais poderosos do que aqueles que tiveram sucessivos fracos governos, eram/são, supostamente, menos industrializados e mais virados para a agropecuária e que anteriormente tinham uma moeda menos forte. Insere-se a Alemanha, França e Reino Unido (que mantém a Libra Estrelina) no «grupo dos fortes» e Portugal, Espanha, Itália e Grécia no «grupo dos fracos».

Com a perda da soberania nacional nos países sob domínio da troika, é expectável que a viabilidade do Euro comece a ser questionada, uma vez que todo o processo e pensamento inicial está a levar outro rumo. É aqui que entra a ideia de federalismo europeu: um mega Estado com uma moeda única forte. Esse planeado super-Estado resume-se, actualmente, a discrepâncias sócio-económicas entre nações e dívidas que não param de crescer sob juros exorbitantes.

Devido às diferenças que deviam ter sido eliminadas com a implementação da UE e da moeda Euro, há já quem pondere abandonar essa estrutura. Contudo, essa posição é tomada de forma insensata, visto que toda a construção desta sociedade única é de carácter irreversível. Afirmando esta irreversibilidade, as constantes ameaças de que a Grécia poderá ser expulsa ou que Portugal tem de começar a pensar em abandonar o grupo cai em saco roto. Porquê? Porque todas as semanas se conhecem novas condições e possíveis perdões para a crise grega, bem como para Portugal, ainda que num plano menos agressivo, mas visivelmente austero. É com estas afirmações que também se põe em causa a viabilidade da expressão «viabilidade do Euro».