O miúdo não falava. Estava paralisado no canto da sala com os olhos fechados, a fazer muita força para não os abrir.
A mulher da casa tinha ouvido um enorme estrondo que parecia vir da entrada, enquanto estava na cozinha a tentar acalmar-se com uma chávena de chá bem quente, porque há horas que andava na rua à procura do menino. O barulho que ouviu era realmente a criança a tentar arrombar a porta e a entrar pela casa dentro como se possesso estivesse.
Lá estava ele, no canto da sala. Quieto, em pé. A fazer muita força para não abrir os olhos. Por momentos, levava as mãos cheias de terra à cabeça e puxava os seus cabelos louros com toda a força como se estivesse a tentar expulsar algo de dentro de si mesmo. A mulher da casa não entendia o que se passava e também não obtinha qualquer resposta por mais perguntas que fizesse.
O menino acabou por perder as forças nas pernas e deixou-se cair no chão. Chorava muito. Não gritava. Apenas chorava. A cabeça estava entre as pernas e as mão já não puxavam os cabelos finos que não passavam mais do que o início das orelhas.
A mulher baixou-se diante dele, passou a mão trémula pelos fios de ouro que brotavam do seu crânio e voltou a falar com calma:
- O que se passou? Onde estiveste? Não podes voltar a fazer isto.
A criança levantou a cabeça, abriu os olhos que estavam vermelhos de tanto chorar, ergueu o seu pequeno braço, apontou para a entrada da sala e disse:
- Está atrás de ti…
E mais nada.