quarta-feira, 30 de junho de 2010

O Menino dos Cabelos Louros

- Conta-me o que se passou! – gritava ela.
O miúdo não falava. Estava paralisado no canto da sala com os olhos fechados, a fazer muita força para não os abrir.

A mulher da casa tinha ouvido um enorme estrondo que parecia vir da entrada, enquanto estava na cozinha a tentar acalmar-se com uma chávena de chá bem quente, porque há horas que andava na rua à procura do menino. O barulho que ouviu era realmente a criança a tentar arrombar a porta e a entrar pela casa dentro como se possesso estivesse.

Lá estava ele, no canto da sala. Quieto, em pé. A fazer muita força para não abrir os olhos. Por momentos, levava as mãos cheias de terra à cabeça e puxava os seus cabelos louros com toda a força como se estivesse a tentar expulsar algo de dentro de si mesmo. A mulher da casa não entendia o que se passava e também não obtinha qualquer resposta por mais perguntas que fizesse.

O menino acabou por perder as forças nas pernas e deixou-se cair no chão. Chorava muito. Não gritava. Apenas chorava. A cabeça estava entre as pernas e as mão já não puxavam os cabelos finos que não passavam mais do que o início das orelhas.

A mulher baixou-se diante dele, passou a mão trémula pelos fios de ouro que brotavam do seu crânio e voltou a falar com calma:
- O que se passou? Onde estiveste? Não podes voltar a fazer isto.

A criança levantou a cabeça, abriu os olhos que estavam vermelhos de tanto chorar, ergueu o seu pequeno braço, apontou para a entrada da sala e disse:
- Está atrás de ti…

E mais nada.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Verão, Futebol e Crise

Esta é uma fase das nossas vidas muito engraçada! Além de nós, homens, começarmos a passar tardes inteiras numa esplanada a beber e dar de comer aos olhos a partir das pernas, ombros, decotes, calções minúsculos e bikinis... Delas claro!, é também a altura em que as meninas se desiludem ainda mais do que no ano anterior com as nossas barrigas. Barris de cerveja, vá...

Outro pormenor é o facto de estar a ser realizado o Mundial de Futebol. Quero eu dizer com isto que enquanto a nossa Selecção lá esteve - nossa e de todos os que nasceram noutro lado e não conseguiram ir à selecção deles - as meninas adoram futebol. Este gosto repentino e entusiasta acontece de 2 em 2 anos, visto que há sempre um Mundial ou um Euro a acontecer nesses espaços de tempo. Agora vamos ter que esperar 2 anos pelo próximo Euro e 4 pelo próximo Mundial, se Portugal lá estiver, para ter as meninas ao pé de nós outra vez. Digo isto, porque se joga o nosso Benfica ou o vosso Porto (o Sporting não entra nas contas), elas até arrancam cabelos por querermos ver futebol.

Continuando com a bola... Onde está a crise quando há futebol? Não há! Mas como Portugal já foi com os pitos, a crise vai voltar. Não viram quando o Benfica foi campeão? Naqueles dias seguintes não havia problemas sociais e económicos. Até eu fui trabalhar mais contente! Acredito que muitos não foram trabalhar no dia seguinte ao Glorioso ter erguido o caneco, mas reparem: a empresa dessa pessoa pode ter perdido com a falta do trabalhador, mas na noite anterior alguém num bar qualquer ganhou o seu dinheiro. Faltou ao trabalho, é certo, mas contribuiu ou não para a economia? Claro que sim. =)

A crise só volta a desaparecer num ápice quando o Benfica voltar a ser campeão ou a Selecção de Futebol estiver presente num evento desportivo, porque enquanto isso não acontecer o Zé Povinho vai continuar a chorar pelos cantos, as ruas da Grécia vão continuar repletas de porrada da velha e a Angela Merkel é que tem de andar com a Europa às costas.

Resumindo e concluíndo, como diz o meu amigo Tiago Thorn, parceiro de tardes sabáticas a jogar ping-pong e perspicaz em esconder cartas enquanto se joga Sobe e Desce: "Isto só lá vai com luta armada!" E a culpa destas ideias é do José Mário Branco.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

A Personagem Oculta

Hoje vou dar entrada de um mini-conto que escrevi há uns meses, penso que ainda em 2009, e que foi editado na brasileira Terrorzine. É uma webzine que conta com a participação de pessoas como eu e foca-se no Terror e no Fantástico.

-/-


A Personagem Oculta


Ele tantas vezes pediu que lhe acontecesse na vida o que acontece nos livros que escreve que, logo por azar, as próprias palavras bateram-lhe à porta quando decidiu escrever sobre uma personagem triste e trágica. Ele sabia que devia parar, mas as mãos não respondiam mais aos pedidos da mente, nem o carvão do lápis acabava, nem a borracha apagava as linhas preenchidas no seu caderno. Estava condenado aos caprichos dos seus antigos desejos.

Não havia outra hipótese senão a de continuar a viver a vida amaldiçoada do seu personagem. Esse ser imaginário apoderou-se tanto da alma do escritor que já não havia retorno possível. Até os demónios que assombravam essa infame personagem dormiam ao lado do agastado inventor de romances. Os seus olhos já não viam as mesmas cores e a pele já não aguentava o requinte das luzes da manhã.

Ele sabia que só havia um final possível se conseguisse um último esforço de vontade própria: oferecer a morte ao seu amigo oculto e morrer com ele nas últimas linhas do seu derradeiro livro.

domingo, 27 de junho de 2010

Beatas de Cigarros. Porquê?

Para inaugurar este blog vou explicar o porquê do nome "Beatas de Cigarros".

Andava aqui às voltas a pensar numa designação, mas não aparecia rigorosamente nada! O nome Metal Crusader já está demasiado gasto; está presente no programa de rádio Blindagem Metal Show com a rubrica "As Crónicas do Metal Crusader", está presente na rádio online americana Metal Messiah Radio com o "The Metal Crusader Show" e está também no próprio endereço do meu MySpace. De repente, lembrei-me de títulos que já tinha dado a blogs antigos, como por exemplo: FollowTheReaper ou GothicArrival. Ri-me bastante quando me lembrei deste último.

Muitas vezes, nada melhor do que olhar à nossa volta para encontrar figuras, ambientes, descrição de sons, objectos e objectivos. Foi isso que fiz. O meu cinzeiro está mesmo à minha frente e, por sinal, cheio de beatas de cigarros. Fazendo um parágrafo...

Ora, o cigarro acompanha-me diariamente, umas vezes mais do que outras, e está presente quando vejo um filme, quando simplesmente estou a vegetar à frente do monitor ou quando escrevo. De certo, há mais razões para o cigarro estar presente, mas fiquemos só por essas três inequívocas situações.

Sem querer, fiz uma analogia: o tabaco acaba por ser como os blogs. O cigarro acende-se, consome-se, apaga-se e ficam as beatas; depois há a particularidade de uns saberem melhor do que os outros. Os blogs são exactamente a mesma coisa! Escreve-se um texto, partilha-se e consome-se pelas massas internautas. E a particularidade que referi sobre o cigarro também se aplica aqui: uns textos são melhores do que outros. O que fica no fim? "Beatas" de textos que vão ficando para trás absorvidos pelos novos posts e novas ideias.