quarta-feira, 5 de junho de 2013

Arrumadores de Carros

Qualquer parque de estacionamento de média ou grande área em Aveiro está repleta de arrumadores. (E não estou a falar dos parques subterrâneos... Esses, por cá, estão às moscas. Mas querem fazer mais quatro e concessioná-los a 60 anos.) O que fazer com os arrumadores? São outcasts da sociedade, são toxicodependentes, são sem-abrigo. A sério, digam-me o que fazer com eles? É mais fácil nem pensar nisso, não é? Já para não falar na polícia... É que já nem para passar multas servem (pelo menos, cá temos os fiscais da MoveAveiro).

Quando estaciono o carro num desses parques já sei que tenho de preparar uns 30 cêntimos e dizer que só tenho mesmo isso. Sim, é verdade, estou a contribuir para a continuação do flagelo, mas o que fazer? Por 30 cêntimos, estou sujeito a levar com uma seringa no pescoço, uma navalhada na barriga ou quando voltar ter um vidro a menos no carro. Tenho sorte, porque me cruzo sempre com arrumadores educados que até me desejam um bom dia. O de hoje não tinha duas cabeças dos dedos.
Em sítios como este parece que estamos em plena Londres. Parques de estacionamento são uma miscelânea de culturas: caucasianos, latinos, negros, romenos (alguns com os filhos pela mão, o que torna a coisa ainda mais extrema).

Passado uns 50 metros aparece-me uma mulher a pedir uma moeda e eu respondo: "Pá, acabei de dar os últimos trocos ao teu colega ali atrás." Mas ao mesmo tempo penso: "Colega?" Mas isto é algum tipo de trabalho para se ter colegas de profissão? Os gajos ganham mais do que eu ao dia e não descontam uma migalha.

Quando voltei ao carro, chega-se o primeiro a pedir mais uma moeda, ao qual respondi: "Ainda agora te dei, carago!" O homem, simpático, disse: "Oh, tem razão... Sabe, isto é tanta gente." "Na boa.", disse-lhe eu, mas na minha cabeça ecoou: "É só cavalo nesse cabeção, pá."

Os aveirenses de certo se lembram da guerrilha que tomou a zona da Loja do Cidadão como palco. Basicamente, os romenos apoderaram-se do sítio e andavam armados com paus. Ou davas 1€ no mínimo ou o teu carro deixava de estar completo. E se dissesses que só tinhas notas (numa de escapar com simpatia), ainda te respondiam: "Nós damos troco de 1€."
Acabaram por colocar parquímetros na zona (e mesmo assim, os romenos lá se manteram durante mais uns tempos - agora não sei) e a polícia respondeu que não pode ter lá um agente todo o dia. Mas eu podia ficar com um lábio à banda ou com um risco sem arte no carro.

A pergunta mantém-se. O que fazer com isto? Será que eles querem ajuda? Será que lhes sabe bem ganhar dinheiro fácil através do medo das pessoas e terem todos os dias a sua dose de cavalo? Como é que se faz um reset à sociedade sem segregação ou actos desumanos? Como é que se constrói uma sociedade igual e justa?

1 comentário:

  1. Evito ao máximo dar dinheiro a esses senhores, pois vejo o acto como que um gesto de extorsão. Li, há uns tempos, um artigo sobre o mesmo tema, em que o escritor disse que riscos nos carros são como cicatrizes no corpo: Temos que aprender a viver com elas. Isto são casos flagrantes, acontecem todos os dias, não entendo o porquê de ainda nada ter sido feito no sentido de acabar com esse tipo de actividade. Uma coisa é o "bem receber", outra é tolerar este género de atitudes protagonizadas por gente alheia a esta nação, que habita aqui de modo parasitário e ainda aterroriza os que lhes garantem os subsídios.

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