segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Simbiose

Concentrei-me no vómito que tinha acabado de expulsar. Nada de mais. Arroz, restos de bife de vaca e no meio do cheiro nojento sentia um pouco da pimenta e dos coentros com que tinha temperado a carne.

Acordei com umas cólicas terríveis que nunca tinha sentido em vinte e poucos anos de existência, salvo os primeiros anos de vida que, obviamente, não tenho qualquer memória. Ao levantar-me da minha cama fui directo ao quarto-de-banho agarrado à barriga e curvado. Enquanto procurava o interruptor apercebi-me que os meus músculos rectais tinham cedido às ordens do cérebro e a sujidade foi inevitável.

À garganta subiu um líquido pestilento e azedo e não me contive. Ainda não estava de joelhos com a cabeça enfiada na sanita e já sentia a boca cheia de comida mal digerida. Depois de inspeccionar o arroz e a carne empestada nas paredes de porcelana, ganhei algum fôlego e encostei-me à parede.

Levantei-me e bebi um pouco de água. Recomeçaram as convulsões estomacais e agarrei-me ao lavatório com uma força descomunal devido às dores diabólicas que tempestavam dentro de mim. Senti nitidamente os músculos e nervos do pescoço e garganta a contraírem-se de forma sofrida e compulsiva. Mais um vómito! Era uma pasta avermelhada e bastante compacta - dessa concentração provinha um odor altamente tóxico com uma pitada a marisco em fase degradante. Algumas bolhas começaram a formar-se e, posteriormente, a rebentar. Ploc, ploc! Das bolsas de ar estoiradas surgiram larvas: umas mais minúsculas que outras, mas a rabear intensamente! O medo apoderou-se de mim e o corpo ficou trémulo.

O meu estômago começou a bombear como um coração repleto de taquicardia. Comecei a tossir repetidamente com alguns salpicos de sangue a pintar o chão. Caí e, automaticamente, as minhas mãos colaram-se ao peito como se a querer tirar algo que estava colado. Senti um ardor infernal pelo esófago acima e a boca cheia de sangue. Da minha boca apareceu uma pequena cauda a rodopiar pelos meus lábios. Puxei, gritei, puxei, berrei, puxei, chorei, puxei, afoguei-me e puxei.

Era fino como um lápis na ponta inferior e tornava-se mais grosso à medida que o corpo se formava até à cabeça redonda, sem olhos e finalizada com um orifício pouco maior do que uma unha de tamanho normal. Estava praticamente sem sentidos, imundo de sangue e vómito. Ainda levantei um pouco a cabeça e vi o ser mais horripilante à face da Terra. Ergueu-se e, sem mais demora, perfurou-me o abdómen. De pouco mais tive percepção, apenas os meus órgãos a serem devorados em pouco menos de dois segundos.

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