sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Reclamação no Hospital de Aveiro

Abaixo segue a reclamação que fiz no Hospital de Aveiro. Sei que não é nada bombástico, mas mostra o funcionamento dos Hospitais em Portugal.

Parados é que não fazemos nada.

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Eu, Diogo Manuel Marnoto Ferreira, portador do Bilhete de Identidade nº xxxxxxxx, venho por este meio expressar o meu desagrado devido a um episódio ocorrido no dia 18 de Novembro de 2011, entre as 12h50m e as 15h52m, no Serviço de Urgências do Hospital de Aveiro.

Dei entrada nas Urgências do Hospital de Aveiro pelas 12h50m e, uma vez que, a sala de espera não estava lotada - antes pelo contrário -, imaginei que seria atendido com rapidez, já que, anteriormente, tinha sido atendido em noventa minutos numa hora em que o Serviço de Urgências estava com bastante movimento.

No período de espera verifiquei que estavam presentes uma média de cinco pessoas e que nenhum utente fora chamado durante largos minutos diversas vezes. Verifiquei também que ao serviço estavam três médicos e duas enfermeiras.

Após duas horas de espera e após o grande descontentamento dos presentes, decidi procurar alguém que me pudesse explicar o que se estava a passar. Ao fundo do corredor dos Gabinetes, encontrei uma médica e duas enfermeiras, às quais perguntei o que se estava a passar no hospital, uma vez que ninguém estava a ser chamado e que algumas pessoas não se estavam a sentir bem, nomeadamente eu. Fui prontamente ignorado.

De seguida, dirigi-me ao guichet de Informação, fiz a mesma pergunta e esclareci que tinha sido ignorado quando procurei por informações no interior das Urgências. A resposta obtida não foi mais do que um «não sei».

Sem mais demora, segui para o Gabinete de Comunicação onde expus a minha situação e onde foi verificado que, realmente, não estavam presentes muitos utentes e que ao serviço estavam três médicos.

Tomei também em conta o horário de almoço, mas este já tinha passado há demasiados minutos.

Fui atendido quase três horas depois de ter entrado e saí do Hospital pelas 15h52m. Não encontro justificação para esta demora, nem para o facto de ter sido ignorado.

Considero-me uma pessoa tolerante e paciente até certo limite, mas creio que esse limite foi duramente ultrapassado.

Sem mais assunto, os melhores cumprimentos,

Diogo Ferreira.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Nuno Rogeiro e o Heavy Metal

O texto que se segue é o e-mail que enviei à SIC, a propósito das declarações de Nuno Rogeiro sobre o massacre na Noruega.

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Bom dia,
agradeço desde já a disponibilidade ao lerem este e-mail de profundo desagrado pelas declarações do Sr. Nuno Rogeiro, há uns dias atrás, na SIC, sobre o hediondo massacre na Noruega.

Achei incrível como na mesma frase se pode utilizar "doenças mentais" e "heavy metal". E pior foi a descrição sobre o Heavy Metal, concretamente, na Noruega.
Ora, se o Sr. Nuno Rogeiro passou uma noite a ler (na diagonal, suponho) o manifesto do Sr. Breivik, então aconselho também a passar outras duas ou três noites a ler sobre o Metal no mundo e na Noruega. Antes de mais, o assunto retratado pelo Sr. Rogeiro não trata de Heavy Metal, mas, sim, de Black Metal ou, melhor ainda, True Norwegian Black Metal.

Existe o "pai" Google e a "mãe" Wikipédia. Mas vou mais longe e aconselho: textos e auto-biografia de Varg Vikernes (em www.burzum.org) e os documentários "Until The Light Takes Us" (altamente aconselhável), "True Norwegian Black Metal" e "Satan Rides The Media" (cuidado com este último, uma vez que é do ponto de vista da imprensa). Penso até que estes três documentários se encontram no YouTube; mais fácil se torna!

Para finalizar: há pouco tempo uma banda matou uma pessoa e colocou-a como capa de CD? Hum, eu penso que o Sr. Rogeiro se quis referir ao suicídio do 'Dead', vocalista dos Mayhem, naquela altura. Ora, pouco tempo? Já foi há quase 20 anos! Basicamente, 'Dead' suicidou-se e a banda colocou a imagem como capa de um álbum ao vivo. Não é que assim já esteja tudo bem, mas é diferente matar de se matar; homicídio e suicídio.
Pedia também contenção sobre os incêndios às igrejas. Isso não aconteceu só por acontecer; há razões culturais e patrióticas (esqueçam o satanismo). Não é que esteja correcto, mas percebo a intenção. Uma das igrejas incendiadas foi construída em cima de um círculo sagrado da cultura ancestral Norueguesa. Varg Vikernes, diz a certa altura: "se eles [os cristãos] não respeitam a nossa cultura, por que razão havemos nós de respeitar a deles?"

O Metal é um vasto estilo musical e cheio de sub-géneros que até chateia. O Metal é um estilo de música seguido por milhões em todo o mundo e receado e/ou odiado por mais milhões ainda. O Metal é um estilo de música que vai desde a bela tristeza do Gothic Metal ou da alegria do Folk Metal até ao extremo religioso do Black Metal ou extremo político do National Socialism Black Metal. (Só para terminar este seguimento de frases: acho extremamente errada a utilização do Black Metal nas ideologias políticas. Black Metal não é política.)

Cumprimentos,
Diogo Ferreira

sábado, 11 de junho de 2011

O Sufoco de Merda e o Monólogo com um Busto

Já pensaste em dizer coisas estúpidas e sem sentido? Coisas que farão uns ficar de boca aberta como quem diz "O quê?" em tom de indignação; coisas que farão outros rir, porque já tiveram pensamentos idênticos ou porque simplesmente acham piada. Há tanta barbaridade dita por aí, mas ao que eu digo tal adjectivo não se aplica, não. O que eu escrevo são devaneios.

Atiraram-me para um aterro de excrementos, um aterro não muito fundo, só até perto do peito, e na maior das loucuras afundei-me de propósito. Fiquei verde e castanho, com a boca cheia de merda. Saí dali, daquelas areias movediças que cheiravam pior do que o cadáver de um camelo no deserto. Corri atrás das pessoas que me empurraram e apanhei algumas! Eu ainda estava cheio de merda e cada vez que caí em cima de alguém, afocinhava-lhes a cara no chão e enchia-os a eles também de merda, muita dela trazida nos bolsos, e empanturrava-os de bosta, pelas goelas abaixo. Até sufocarem. Sufoco de merda!

Não sabe bem dizer parvoíces destas? Parvoíces que no fundo vos sabia bem fazer?
Mas há mais...

Começo a falar com um busto numa sala ampla que faz eco onde só a minha voz se ouve, onde não está mais ninguém. Onde nem eu sequer estou! Crio uma discussão enorme em que insanidade é o propósito mais são. Grito palavras sem nexo em que a subjectividade é a finalidade mais objectiva. Puxo os cabelos, ando para trás e para frente, enfrento aquele pedaço de calcário exposto na grande catedral sem santos ou imagens. E depois de tamanha falta de estatuto mental, beijo a cabeça de pedra num acto de perdão. De seguida, salto para trás, estico o corpo, abro os braços no máximo da minha envergadura e grito "Eu sou doido!"

Não sabe bem perdermos-nos em vislumbres sem regras que só habitam na imaginação?
A mim sabe. Sabe muito bem.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

um segundo

um segundo

(um segundo foi o tempo que demoraste a ler, um segundo da tua vida que já não volta e a culpa é toda minha)

terça-feira, 5 de abril de 2011

O dia em que os Deuses perderam

As armas estão limpas, mas não arrumadas. Inocentes e culpados mortos, Heróis enterrados. Quilómetros repletos de espadas espetadas no chão que marca cada local onde alguém tombou. Planícies outrora estéreis, mas que agora são o banquete de corvos e chacais. Olhos sem vida, mãos sem tacto, pernas sem movimento.

O rio, mais atrás, já não corre com a leve velocidade das águas claras. Vermelho escuro é o tom das ondulações que beijam as margens coaguladas.

As Mulheres já não se vêem a transportar alguidares de roupa para lavar, nem se ouvem a cantar como quando iam de cântaro no regaço até ao poço. E se cantam, não é mais do que um louvor aos Deuses para que encaminhem aquele que lhes acabou de morrer nos braços.

Ímpios e religiosos unem-se a uma só voz no choro da penumbra e da perda. Unem-se na angústia de um coração desfeito até ao fundo para com aqueles que não puderam salvar mesmo quando a espada estava em riste, no ângulo perfeito, para que nenhum outro buraco fosse cavado e cultivado com mais um que iria deambular no outro Mundo.

As cruzes foram queimadas, os templos foram destruídos, as aras de sacrifício foram destronadas. Nenhuma religião ou crença iria perdurar naquela terra.
Depois da desgraça que durou dias, todo o Ser Humano declarou que este Mundo (se é que há outro, uma vez que já duvidavam de tudo o que não é palpável ou visível) seria conduzido pela Mão e Consenso do Homem e pela Vingança e Amor da Mulher.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A Queda de Um Anjo?

Acordei com a sensação de que estava a dormir profundamente há mais de duas horas - e é verdade, penso ter adormecido à uma da manhã e o relógio marcava três.

Uma barulheira demoníaca na rua.

Não foi preciso ligar o candeeiro para discernir que o meu gato estava aos meus pés virado para a janela com as persianas baixadas, mas que deixavam entrar ténues fios de luar. Liguei o candeeiro. O animal estava inquieto e assustado, em posição de ataque: dorso curvado, rabo no ar, patas dianteiras esticadas com as garras a cravarem o cobertor e várias bufadelas expelidas pela boca dominada por pequenos, mas letais dentes.

"O que é bicho?"
O barulho apocalíptico continuava na rua.

Levantei-me, subi as persianas e abri a janela. Estava uma noite quente. Os cães, tanto os vadios como os dos vizinhos, ladravam freneticamente e corriam em círculos com uivos ao céu à mistura. Os gatos tinham o mesmo comportamento do meu. Os pássaros, que normalmente só voavam de dia, rodopiavam pela noite entre árvores e casas.

Incrivelmente, era o único à janela.

Do céu longínquo, dominado esta noite pela Lua e pelas Estrelas, vi uma bola de fogo - "Um meteorito? Um cometa?" Os meus olhos estavam fascinados a olhar para aquela ameaça destruidora. Aproximava-se! Muito rapidamente. E segundos depois passou à frente dos meus olhos em direcção ao solo. "Afinal não era tão grande como parecia.", pensei.

Uma cratera do tamanho de uma roda de bicicleta de adulto e fumo.

Dessa cratera vi duas mãos a agarrarem as suas fronteiras: uma era branca e limpa, a outra era negra e carbonizada. De lá, acabou por surgir um "homem", um "ser"... uma coisa! Metade do seu corpo irradiava luz, cabelos louros, uma túnica de ouro tapava as partes sexuais e uma asa branca, a outra metade estava completamente queimada, negra, membros em forma de garras.

Já com o corpo erecto, aquela coisa - metade anjo, metade demónio - fixou o seu olhar no meu e não conseguir desviar-me.

Através da minha visão captei uma mistura de luz intensa dominada por trevas. Como se entrasse na minha mente.

Acordei vinte anos depois vestido de branco, numa sala com paredes de almofada.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Apaixonei-me dentro da mala de um carro - Parte I

Quando: Sexta-feira, 04h 32m
Onde: à porta de casa

Tinha acabado de sair de um táxi qualquer conduzido por um daqueles taxistas que fala muito e nunca percebe quando um gajo está todo bêbado e mal se atreve a falar. Mas eles falam e falam e falam e tu só moves a cabeça e dizes algumas palavras enroladas. O taxímetro marcava 9,70€. Ergui as ancas quando ainda estava sentado para conseguir tirar a carteira do bolso de trás das calças. Tinha uma nota de 10€ e uns trocos em moedas. Dei a nota ao taxista, mas pedi para que não me desse o troco imediatamente uma vez que tinha as tais moeditas, assim dar-lhe-ia 20 cêntimos e ele iria dar-me troco redondo de 50 cêntimos. Foi muito complicado enxergar os tamanhos e pequenos números das moedas castanhas de 5, 2 e 1 cêntimos, mas não desisti.

Saí.

Andei cerca de 3 minutos até chegar à porta de casa. Geralmente, quando volto num táxi, peço para me deixar na rotunda da Estrada Nacional. Sempre são uns cêntimos que poupo para uma cerveja ao outro dia e faz-me bem apanhar ar enquanto caminho durante esses cerca de 3 minutos - mais coisa, menos coisa... para o caso é igual ser carne ou peixe.

Estou à frente da minha casa.

Respiro profundamente e estico a coluna. Meto a mão ao bolso à procura das chaves. Encontro um papel. Um número de telemóvel. "E agora? Será da loira ou da morena?"
Ouvi umas vozes a ecoar na rua, cada vez mais perto. Eram dois homens. Ainda não lhes conseguia ver a cara. Eram o dobro de mim, isso era certo! Neste momento já estavam mesmo perto de mim.

"Então, amigo? Está complicado?"
E riram-se.

Quis responder, mas o estômago já não deixava. Tentei apressar-me a sacar das chaves. Não adiantou ter medo. Numa fracção de segundos senti uma mão tocar-me entre a nuca e o pescoço e através da visão alcoolicamente turva vi a porta da minha casa ficar cada vez mais perto dos meus olhos.

Caí.
Fui atado.
E puxado.

(Ainda) Não estava completamente inconsciente.
Despejaram-me na mala de um carro que tinha acabado de ser ligado.

Mal eu sabia que naquela noite/manhã me iria apaixonar.
Na mala de um carro.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Ainda estou para ver chegar o dia em que...

Ainda estou para ver chegar o dia em que um patrão que recebe 20.000€ por mês e viva de forma confortável tire 5.000€ e distribua pelos empregados mais carenciados; aquele que tem a mulher desempregada, aquele que tem a casa para acabar de pagar porque os 485€ + subsídio de alimentação não chegam e se não pagar, o banco tira-lhe a casa e vai para o olho da rua, aquele que fez um mau investimento na perspectiva de uma vida melhor e agora trabalha como um escravo para se safar dos bosses que vão estar sempre prontos a cortar-lhe as pernas, etc, etc, etc... Se não parar por aqui, nunca mais paro.

A culpa não é propriamente dos governos. Ser governante é difícil e ingrato. Mas não esqueçamos os deputados que estão nos cantos e topos do Parlamento a ver e-mails, capas de jornais e atender telefones. Tanto faz lá estar o Sócrates, o Durão, o Guterres, o Zé, o Tó, o Jaquim, o Manel... Eles vão ser sempre lapidados. É isso que me chateia no povinho tuga! Nunca estão bem com nada, não param para pensar e só sabem ladrar para meter abaixo. Seja quem lá for que esteja. É tão certo como a água ser diferente do vinho. (Ainda bem que a Manela das Piquenas e Médias Empresas tirou da cabeça que sabia discursar e fazer Política.)

A culpa é dos que se queixam por tudo e por nada. A culpa é dos que ganham o suficiente para viver e continuam a não fazer nada para que isto melhore. A culpa é dos que falam mal dos Ucranianos, Moldavos e Kosovares que assentam tijolo e limpam retretes, mas o português não o quer fazer. A culpa é daqueles que preferem ir ao Chinês em vez de ajudar a vizinha que tem uma mercearia. A culpa é dos que preferem ganhar o rendimento mínimo e estar em casa a coçar os tomates em vez de aproveitarem a pouca oferta de trabalho que lhes possam fazer. A culpa também é daqueles que atribuem o rendimento mínimo a qualquer um sem um estudo prévio da situação. A culpa é daqueles que fizeram um buraco na Segurança Social. A culpa é daqueles que acabaram com as pescas e a agricultura, porque queriam fazer de Portugal uma estância turística. A culpa é daqueles que cospem no prato onde comeram. A culpa é dos sabichões que vendem gato por lebre. E mais havia a dizer! Como diz José Mário Branco: "há culpa de todos em geral e não há culpa de ninguém em particular." Ora nem mais! Ganda Zé Mário, caralho!

Só se lembraram do Caso Freeport quando o Sócrates se recandidatou. Agora, só se lembram do BPN com as Eleições Presidenciais. Jogos, meu/minha caro/cara! Há milhares de pessoas que ficaram sem um único tostão, houve centenas deles que vieram para a rua perguntar pelas suas poupanças e foram dominados pela Polícia. E agora é que se lembram do BPN? Onde já se viu um presidente de um banco faltar à audição do Parlamento, porque se tinha distraído nas datas e já tinha compromissos? É gozar connosco ou não é? Cocktails de Molotov e vidros partidos e casarões roubados! Assim é que devia ser! Ah, mas calma!!! O pobre que rouba um pão para comer é ladrão e vai preso, o rico não rouba, só desvia (para amaciar) e ainda foge para o Brasil. (Não quero com isto dizer que todo o pobre é santo, mas infelizmente também não conheço ricos santos.)

Não vai ser o próximo Primeiro-Ministro que vai resolver isto. Muito menos o próximo Presidente da República. Tanto faz lá estar O-Que-Acabou-Com-As-Pescas-E-Agricultura-E-Fodeu-Isto-Tudo, como o Poeta, como o Médico, como o Comuna-Que-Ninguém-Conhece, como o Desconhecido-de-Viana, como o Zé-Ninguém-Das-Ilhas.

Isto só lá vai com peste e fome. Isto só lá vais quando os primeiros corajosos dispararem os primeiros tiros (nem que seja nas suas próprias cabeças). Isto só lá vai com ajuntamentos e pequenos atritos aqui e ali.

O grande problema é que a Europa já não é um continente com vários países. A Europa é um país que não se sabe governar.