segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Entremuralhas 2013 @ Leiria, Portugal

23 de Agosto - Teatro José Lúcio da Silva
Deine Lakaien: não estive presente.

24 de Agosto - Castelo de Leiria
Der Blaue Reiter: não assisti ao concerto todo; ouvido/visto da Torre da Menagem, a percussão militarista estava mais audível do que o restante instrumental neo-clássico.
Lebanon Hanover: um revival de Joy Division, mas em pior; sou fã de post-punk, mas este duo ainda não me convenceu; como em estúdio, em concerto também não se percebe nada do que cantam.
TriORE: a união neo-clássica militarista de Triarii com o neo-folk sexual de Ordo Rosarius Equilibrio numa rara aparição ao vivo; apresentação de dois temas novos; consistência extraordinária.
Spiritual Front: o melhor concerto deste dia/noite 24; setlist bem escolhida a saltar principalmente entre "Armageddon Giggolò" e "Open Wounds"; músicos em forma; Simone "Hellvis" Salvatore extremamente simpático (em cima e fora do palco); os temas "Slave" e "Bastard Angel" a acabar em grande explosão.
Merciful Nuns: mais do mesmo dos tempos de The Garden Of Delight; 7 álbuns em 2 anos é muita fruta para acompanhar uma banda; execução irrepreensível dos temas; Artaud Seth ainda deu uma queda num estrado, mas mal se notou.
Nachtmahr: mistura temática entre militarismo e sexualidade transmitida através de uma palete electrónica bem agressiva; Thomas Rainer sempre polémico; primeiro tema não arrancou em condições devido a uma qualquer má ligação num dos computadores dos músicos (barracada total); computadores sim, mas teclados também.

25 de Agosto - Castelo de Leiria
Roma Amor: dark cabaret cheio de romantismo, fantasia e tragédia; simpatia evidente; ruído que saía do microfone que chateou durante todo o concerto; cover muito boa, em inglês, do tema "Dans le Port d'Amsterdam", de Jacques Brel.
Die Selektion: post-punk com electrónica minimalista bem acompanhado por um original trompete; trio a ter em conta no panorama, mas gosto mais quando o tipo não canta.
Naevus: imagine-se Sol Invictus e/ou Of The Wand And The Moon com distorção e aí temos Naevus; concerto a começar com energia com a "Idiots (Let Me In)" lá pelo início, um meio muito sonolento, mas que até deu para voltar a acordar de novo na parte final com boas e enérgicas músicas.
Qntal: temática medieval misturada com vozes operáticas e instrumentais electrónicos; agarraram desde o início uma plateia que acolheu e pediu mais; cumpriram muito bem.
Soror Dolorosa: a banda que eu queria (re)ver devido ao muitíssimo bom álbum "No More Heroes"; Andy Julia sempre enérgico; bons músicos - nota mais para o baterista; boa setlist, mas com um encore longo e monótono com músicas muito antigas; problemas alheios à banda com o microfone em dois temas.
Kap Bambino: energia e, possivelmente, muita drogaria; música electrónica com muita muita patada; na onda de Crystal Castles, mas com maior definição sonora ao vivo; não percebi se o "DJ" Orion Bouvier estava lá só para carregar pause-play ou se estava mesmo a fazer coisas; os berrinhos agudos da Caroline Martial no final de cada verso começam a irritar passado um bocado (em estúdio não insiste tanto nessa linha - ufa!).

p.s. 1: o estereótipo do fotógrafo que só fotografa os/as gó-gós está a acabar e os menos espampanantes começam também a ser alvo das objectivas.
p.s. 2: os cabeças de cartaz podem actuar num local e palco maiores, mas a emoção continua a sentir-se mais nas ruínas da Igreja da Pena.
p.s. 3: aquele porco no espeto continua um must!
p.s. 4: é sempre bom voltar a Leiria por esta altura, mas cada centímetro de estacionamento é para pagar, salvo alguns locais mais recônditos que os taxistas safam.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Varg Vikernes, o eterno perseguido por culpa própria

O mundo da música - mesmo que de uma forma paralela visto que o acontecimento não tem propriamente a ver com música, mas com um intérprete - foi hoje tomado de assalto com a notícia de que Varg Vikernes (Burzum) foi detido em França, onde actualmente reside. Porquê? Segundo as notícias, possuía uma cópia do manifesto de Breivik e a sua mulher parece ter adquirido quatro espingardas (alegadamente pertence a um clube de tiro). As autoridades suspeitam que Varg estaria a planear um massacre.

Não vou aqui dissecar a história de Varg e Burzum, pois isso já está mais que dissecado, até mesmo na primeira pessoa. Varg aprendeu, à custa dos seus erros de adolescente, que para se exprimir mais vale ser por si próprio e sempre avisou que se queremos saber algo sobre ele, então que pesquisemos pelos seus próprios textos.

Todos conhecemos a sua faceta anti-semita e a sua veia nacionalista. Tudo o que há de mal neste mundo é por culpa dos judeus, diz ele. Segundo Varg, sem uma comunidade judaico-cristã não haveria Marxismo, empréstimo de dinheiro ou até hippies - vá-se lá saber o que vai naquela cabeça. Dá poucas entrevistas, mas também já nem leio essas poucas, porque passa mais tempo a falar das suas ideologias políticas e biológicas do que da sua música. Confesso, no entanto, que leio assiduamente os seus ensaios e textos sobre Paganismo (mais uma daquelas coisas que foi destruída pelo nazismo - hoje em dia mal posso usar um eihwaz ou uma cruz celta sem que me digam "isso é nazi").

Onde eu quero chegar é que, apesar de não partilhar dos seus ideais políticos, devemos chamar os bois pelos nomes - uma coisa que os media insistem em não fazer. A notícia que surgiu hoje trata Varg Vikernes como neo-nazi. A sério? Será que os ditos jornalistas nem se dignam a fazer o trabalho de casa? Foi tratado como satânico quando foi preso em meados dos anos 90 e de seguida como nazi por ser contra a globalização e contra as religiões extra-Europa. Eu acho que ele ainda vai acabar como budista.

A segunda parte das notícias que correram ainda me irritou mais! Para além das armas da sua mulher, parece que o rastilho foi accionado devido a uma cópia do manifesto de Breivik. Ora, espingardas e Breivik num só é propenso a massacres? Mais uma vez, os jornalistas não fizeram o trabalho de casa. Varg Vikernes desancou mais do que uma vez o acto hediondo levado a cabo pelo seu compatriota. Custava muito trabalhar um bocadinho e não cair na asneira de juntar neo-nazi e Breivik na mesma notícia?

Breivik é cristão, Varg (apesar de o seu nome original ser Kristian) não é. Breivik tinha afiliações a movimentos, Varg não tem.
E qual é a novidade de Vikernes ter uma cópia do manifesto de Breivik? Senhores jornalistas, Varg Vikernes escreveu um texto sobre isso mesmo precisamente há dois anos atrás! Ei, eu sou filiado num partido de Esquerda e, no entanto, tenho vários livros sobre Hitler, III Reich e II Guerra Mundial - acho que isso só faz de mim uma pessoa culta.

E fala-se em massacre? Vou só transcrever alguns excertos retirados de textos escritos por Vikernes:

"To Breivik I can only say I hope you do kill yourself. You have killed more Norwegians than the entire Muslim population in Norway has done the last 40 years, and you claim to be a Norwegian nationalist and patriot fighting (alongside your Jewish masters) against Islam, to protect us against their crimes!?"

"Oh, and by the way; true nationalists don't kill children of their own nation, even if someone tries to brainwash them, like AUF did. They were not (yet) Marxist extremists; they were just children."
 
E a quote mais importante:
"The final solution to this problem is not to kill anyone, but to raise our children with European ideals and values, and a European world view, and make sure that Christianity dies out when our coward parent generation dies out."
Portanto, massacre? Não creio. A não ser que mude de opinião muito rapidamente, o que não me parece ser lá muito Vargiano.

Não quis com isto defender Varg Vikernes, apenas mostrar os verdadeiros factos e não nos deixarmos ser invadidos pelos mass media que escrevem de vendas nos olhos.

Varg Vikernes é, para mim, um músico intocável que redesenhou todo o cenário black metal - tanto a nível músical como a nível de imaginário. Como pessoa nunca me despertou qualquer tipo de simpatia, mas até os piores devem ser ouvidos até ao dia da sua morte para, pelo menos, não morrermos nós na ignorância.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Demissões, trocas e baldrocas

Os acontecimentos têm sido tantos e o tempo tem sido tão escasso! Muito trabalho (sim, sou um felizardo com emprego) e alguns problemas de saúde afastaram-me dos meus comentários mordazes aqui pelo blog.
Como alguns de vós deverão saber, colaboro com o programa "9idades Às6", da Rádio Ás (webrádio comunitária de Aveiro) através da minha rubrica "Quer-me Parecer Que..." e é nesse espaço que faço o resumo das semanas que têm passado. Como o tempo disponível para aqui escrever tem sido mesmo pouco, o que vou fazer é deixar-vos, praticamente na íntegra, a minha última intervenção radiofónica que decorreu no passado domingo, 07 de Julho de 2013.
É só mesmo para não acharem que isto está morto...

Quem se lembra de uma greve de professores quando temos o Rabaça Gaspar a demitir-se? Quem se lembra de uma greve geral quando temos um espectáculo circense entre Passos Coelho e Paulo Portas?

Quanto à greve geral quero só frisar algumas coisinhas… A CGTP diz que foi excepcional, a UGT é sempre mais cautelosa e o desgoverno é sempre a vítima. Na voz do ministro Marques Guedes, o governo respeita a greve, mas agradece àqueles que acederam ao seu direito ao trabalho. Mas que grande lata, oh Marques Guedes! Quer-me parecer que isto passa bem por um insulto ao quase milhão e meio de desempregados.

Por Aveiro, Ribau Esteves continua a lutar pela sua corrida à Câmara Municipal como se não houvesse amanhã – até o PPM se juntou à coligação. E parece que Élio Maia vai como independente após uma carrada de CDSs se terem demitido. Quanto a Ribau: tanta coisa com amor a Ílhavo e aos Ilhavenses, mas quer-me parecer que quando chega a hora do tacho e da ganância do poder quem quer saber da terra e dos conterrâneos? Tá boa, Ribau, até te fazem cantigas de marchas populares e tudo.

Mas o mais excitante foi mesmo a demissão, à terceira, de Vítor Gaspar. Tanto oleou que lá passou! O que há a reter da sua carta de despedida é que os credores estão primeiro e só depois as pessoas, um ministro que devia negociar mas não tinha mandado para tal e que a sua credibilidade estava minada. Calma, Gaspar, não era preciso seres tão agressivo contigo mesmo e com o parceiro Passos, és um homem coerente… Isto é, falhavas sempre as previsões – há que dar crédito a tanta coerência, a malta é que não ficou muito contente. Aqui está um exemplo de que coerência nem sempre é uma qualidade.

Eu disse que isto foi excitante? Não, não… Paulo Portas e sua birrice é que foi deveras excitante! E ainda está a ser! …Mas já repararam que digo sempre Paulo Portas em vez de apenas Portas? É que havia outro Portas, que era Miguel e eu não quero cá misturas. O certo é que, infelizmente, morreu o Portas errado – o que fazia mais falta.
Mas siga… o Paulinho das Feiras embirrou, porque não quis Maria Luís Albuquerque a substituir Gaspar. Até aí tudo bem, eu também não queria. É uma mulher incompetente e está envolvida nas swaps. O que se passou no fim-de-semana de 29 e 30 de Junho foi mais ou menos isto: Maria Luís disse não ter informação sobre as swaps mesmo depois de o seu governo ter afirmado que Teixeira dos Santos passou a dita informação (ainda que pouca, na voz deles). Ora, como já falei aqui anteriormente, o buraco das swaps dobrou em 2 anos: de 1700 milhões para 3500 milhões de euros. E agora vêm dizer que não sabiam de nada…
Então, o Paulinho demitiu-se! Mas não foi a sério! É tudo a brincar! Lembram-se daquela parvalhona que disse grotescamente que os filhos eram como socialistas? Pronto, o Paulo Portas fez igual aos filhos dela - que não são socialistas, ela é que é má mãe. Retomando: o que o Paulo quer é um lugar ao Sol, mas talvez não precisasse de tanto alarido, até porque a malta está sempre com medo da Esquerda a sério, mas o que é certo é que em poucas horas, o Paulinho fez-nos perder mais de 3000 milhões de euros!
Mas antes disso, Pedro Passos Coelho ainda fez uma declaração ao país completamente salazarista: não aceito, não quero e vai ser à minha maneira. O Paulo arreou as calcinhas e têm tido meia dúzia de encontros por dia.
Já Cavaco Silva deve estar tão empanturrado com bolo-rei que nem fala. Se bem que não estamos na época do bolo-rei, é mais regueifa e bolo de coco que se vendia ali à entrada do esporão da Praia da Barra, mas quer-me parecer que já expulsaram de lá os vendedores.
No meio disto tudo ainda temos que ir ao dicionário mudar o significado de palavras como “irrevogável” e “dissimulação”, porque o Paulo lhes deu um novo rumo.
Ora, um novo rumo é o que Portugal e a Europa precisam! O meu desejo político é que o governo grego caia primeiro que o nosso e que o Alexis Tsipras consiga dar uma vitória esmagadora ao Syriza e ao Povo Grego. E depois, mostrar aos neoliberais com artéria fascizóide como se faz! Porque, meus caros, isto é mesmo assim: ou vai ou racha! A Democracia nasceu na Grécia, é possível que também lá morra. Mas antes de morrer há uma palavra a dizer e essa palavra pertence àqueles que estão do lado do Povo e não aos que estão do lado da finança sem escrúpulos que quanto mais enriquece mais os pobres são miseráveis. Por isso, não vamos morrer já! Nem queremos morrer! Queremos vencer e vamos vencer! Uni-vos! ¡A las barricadas!

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Arrumadores de Carros

Qualquer parque de estacionamento de média ou grande área em Aveiro está repleta de arrumadores. (E não estou a falar dos parques subterrâneos... Esses, por cá, estão às moscas. Mas querem fazer mais quatro e concessioná-los a 60 anos.) O que fazer com os arrumadores? São outcasts da sociedade, são toxicodependentes, são sem-abrigo. A sério, digam-me o que fazer com eles? É mais fácil nem pensar nisso, não é? Já para não falar na polícia... É que já nem para passar multas servem (pelo menos, cá temos os fiscais da MoveAveiro).

Quando estaciono o carro num desses parques já sei que tenho de preparar uns 30 cêntimos e dizer que só tenho mesmo isso. Sim, é verdade, estou a contribuir para a continuação do flagelo, mas o que fazer? Por 30 cêntimos, estou sujeito a levar com uma seringa no pescoço, uma navalhada na barriga ou quando voltar ter um vidro a menos no carro. Tenho sorte, porque me cruzo sempre com arrumadores educados que até me desejam um bom dia. O de hoje não tinha duas cabeças dos dedos.
Em sítios como este parece que estamos em plena Londres. Parques de estacionamento são uma miscelânea de culturas: caucasianos, latinos, negros, romenos (alguns com os filhos pela mão, o que torna a coisa ainda mais extrema).

Passado uns 50 metros aparece-me uma mulher a pedir uma moeda e eu respondo: "Pá, acabei de dar os últimos trocos ao teu colega ali atrás." Mas ao mesmo tempo penso: "Colega?" Mas isto é algum tipo de trabalho para se ter colegas de profissão? Os gajos ganham mais do que eu ao dia e não descontam uma migalha.

Quando voltei ao carro, chega-se o primeiro a pedir mais uma moeda, ao qual respondi: "Ainda agora te dei, carago!" O homem, simpático, disse: "Oh, tem razão... Sabe, isto é tanta gente." "Na boa.", disse-lhe eu, mas na minha cabeça ecoou: "É só cavalo nesse cabeção, pá."

Os aveirenses de certo se lembram da guerrilha que tomou a zona da Loja do Cidadão como palco. Basicamente, os romenos apoderaram-se do sítio e andavam armados com paus. Ou davas 1€ no mínimo ou o teu carro deixava de estar completo. E se dissesses que só tinhas notas (numa de escapar com simpatia), ainda te respondiam: "Nós damos troco de 1€."
Acabaram por colocar parquímetros na zona (e mesmo assim, os romenos lá se manteram durante mais uns tempos - agora não sei) e a polícia respondeu que não pode ter lá um agente todo o dia. Mas eu podia ficar com um lábio à banda ou com um risco sem arte no carro.

A pergunta mantém-se. O que fazer com isto? Será que eles querem ajuda? Será que lhes sabe bem ganhar dinheiro fácil através do medo das pessoas e terem todos os dias a sua dose de cavalo? Como é que se faz um reset à sociedade sem segregação ou actos desumanos? Como é que se constrói uma sociedade igual e justa?

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Pipocas? Não, agora são camisolas.

Anda tudo histérico com mais um bitaite lançado no programa "Prós & Contras", da RTP1. Se há programa de televisão que merece respeito é este, mas se há programa óptimo para lançar sound-bytes também é este.

Lembram-se do Miguel Gonçalves? Um basofe de primeira que vende sonhos e ganha a vida à custa do desespero das pessoas; tem carisma, tem sotaque e tem ideias como vender pipocas num centro comercial para o aluno pagar propinas. Foi lançado pelo "Prós & Contras" e agora temos que o aturar.

O mais recente chama-se Martim, de 16 anos. Mandou fazer meia dúzia de camisolas (que, segundo me dizem, não valem uma pissa) e conhece miúdas giras. Parece que em apenas um ano montou uma empresa com negócio. E tornou-se um hype porquê? Porque respondeu a Raquel Varela que é melhor ganhar o ordenado mínimo do que estar no desemprego e recebeu uma ovação.
Como me disse um amigo de infância enquanto discutíamos esta matéria: "ele diz a verdade, não tem é razão." Que bela frase que o meu amigo Pedro encontrou para descrever uma resposta viral dada em plena televisão pública.

Depois disso, o petiz conquistou as redes sociais com a sua coragem. O que me irrita, para além do actual conceito de empreendedorismo e falta de experiência de vida de um miúdo, é mesmo as pessoas que freneticamente partilham nas redes sociais o momento em que Raquel Varela teve uma fraqueza e o pequeno Martim se sai com uma resposta que nem sabe como fez. Mandando números para o ar, arrisco a dizer que 90% das pessoas que partilharam e comentaram esse sound-byte não viram (ou não vêem) o "Prós & Contras", porque àquela hora há Internet, um filme, um jogo de computador, um café, uma novela ou um Big Brother de famosos encalhados. Um dos poderes do sound-byte é mesmo este: fazer curvar os ignorantes.

Claro que é bom haver miúdos com ideias, mas nem todos temos de ser empreendedores. E essa palavra já está a atacar a pré-escola! O neoliberalismo e o novo conceito de empreendedorismo diz-nos que nascemos todos iguais, que as oportunidades estão aí e se não as agarras, a culpa é tua é só tua. Que conceito mais distorcido e individualista! A realidade é precisamente o contrário: nascemos todos diferentes e, por isso, temos de criar mecanismos que nos tornem iguais.

Tiveram ambos tiradas populistas, o Martim e a Raquel. O Martim pelo que já se sabe e a Raquel porque se lembrou dos meninos da China ou do Bangladesh. Todos temos culpa no cartório - eu calço Nike. Mas há uma coisa que os diferencia: a maturidade. O Martim rejubila-se, porque é melhor receber o ordenado mínimo do que estar desempregado, mas a Raquel sabe que esse salário (que na realidade é de cerca de 430€) não suporta famílias. Nem todos vimos da linha de Cascais e nem todos conhecemos miúdas giras como o Martim. Nem todos temos ideias brilhantes todos os dias, nem que seja ir vender pipocas no centro comercial.

Contudo, tenho que concordar com a Raquel quando diz que o trabalhador não deve nada a ninguém. É verdade, eu não devo porra nenhuma a caralho nenhum! Felizmente tenho emprego, felizmente não ganho o ordenado mínimo, mas cada vez mais fico com menos, porque me sobem o IRS ou porque há mais uma sobretaxa qualquer.

No fim, a ideia com que fico é que, apesar de termos posto nas ruas perto de 1,5 milhões de pessoas no 2 de Março, ainda há uma grande proporção de gentinha que, nesses dias, fica no sofá ou vai à praia e se alimenta de estiradas populistas como estas. Não querem saber de política, não querem ser politizados (muito menos partidários), não querem mexer o cú para exigir Democracia... Mas partilhar e comentar tresloucadamente um puto de 16 anos já é activismo. É? Não.

Se aparecer uma versão mais nova do Miguel Gonçalves, não digam que não avisei. Depois aturem-no.

domingo, 12 de maio de 2013

Cinco Câmaras Partidas - A História através da óptica de Emad Burnat

Emad é um palestiniano que vive em Bil'in. É casado com a bonita Soraya, também palestiniana que cresceu no Brasil. Juntos têm quatros filhos e pelo nascimento de Gibreel (o mais novo), Emad adquire uma câmara de filmar para imortalizar essa época das suas vidas.
Emad acaba por eternizar também a luta dos habitantes de Bil'in contra o roubo das suas terras por parte de Israel. Entre as dezenas que se manifestavam constantemente encontravam-se activistas estrangeiros e, para além de Emad que estava sempre a filmar, destacavam-se dois homens: Adeeb era a força, era aquele que gritava as palavras de ordem, encabeçava todas as manifestações, dava o corpo às balas e ao gás lacrimogéneo lançado pelo exército israelita; Bassem (mais conhecido por Phil) era a alma, era aquele que se manifestava pela paz e considerava todos iguais, era adorado pelas crianças (incluindo Gibreel). Bassem foi morto, a tiro, numa das manifestações. Assassinado direi até. Emad captou tudo. Adeeb foi, mais tarde, preso, assim como os irmãos de Emad já o tinham sido antes.

Durante os cerca de cinco anos que Emad filmou, rebentaram-lhe cinco câmaras e duas delas salvaram-lhe a vida.

Israel fez de tudo para travar a avalanche de Bil'in (que já estava também a chegar a Ni'lin): levantaram cercas, criaram caminhos entre muros como se se tratasse de uma terra de ninguém, levaram crianças do colo das suas mães e mataram.
Bil'in nunca desistiu e após cinco anos, os tribunais declararam ilegal aquilo que os settlers israelitas estavam a fazer. Destruíram as cercas de arame, devolveram parte das terras aos seus donos palestinianos, mas não se livraram de um enorme muro de betão num local mais periférico da vila.

Nada mais nada menos do que as mesmas ferramentas utilizadas pelo nazismo para oprimir e segregar. Estamos em pleno Séc. XXI.
Fomos habituados pela comunicação social de que os EUA e Israel são os freedom fighters e tudo o que vem da Palestina é terrorismo. "5 Broken Cameras", de Emad Burnat, mostra a selvajaria israelita perante um povo oprimido que apenas quer viver.

Orgulho-me de mim próprio por ter encabeçado a manifestação de 2 de Março, orgulho-me por me ver a mim e ao meu nome nas acções do movimento Que se Lixe a Troika, orgulho-me por ter uma voz no partido ao qual sou filiado. Orgulho-me por tentar fazer de Portugal e da Europa um país e um continente melhores.

Mas depois de ver homens como Emad, Adeeb ou Bassem "Phil"... Penso: "o que eu faço é para meninos."


quarta-feira, 8 de maio de 2013

Coincidências matreiras - BES, BCP, CGD e mercados financeiros

Portugal colocou, no mercado financeiro, cerca de 3000 milhões de euros da dívida a 10 anos com um taxa de juro de 5,669%. "Um sucesso!", gritam eles embevecidos por mais um missão cumprida de ajuda à banca privada e aos investidores estrangeiros que ninguém conhece, mas que, muito provavelmente, têm inside tradings com inúmeros bancos e são stockholders de muitos mais.

Agora vejamos: nestes últimos dias, com diferença de poucas horas, o BES declara um prejuízo de 62 milhões de euros e um layoff de 200 trabalhadores, o BCP declara um prejuízo de 152 milhões de euros e o banco estatal CGD também está em prejuízo (36,4 milhões) - isto tudo no primeiro trimestre de 2013.

No mesmo dia, ou em pouquíssimas horas posteriores, em que tudo isto é declarado, o Governo emite, no mercado, os tais 3000 milhões de euros em títulos de dívida. Eu não sou investigador, mas não é preciso ser-se muito inteligente para perceber a "coincidência".

Espero que estejam recordados de que quando o Estado recapitalizou o BPI e o Banif, esses dois bancos privados pegaram em parte desse dinheiro - que é teu e meu -, investiram na dívida pública e sobreviveram. Um inside trading legal, direi? Comprar público com aquilo que já é público.
Desta vez não será muito diferente, só que os intermediários da recapitalização bancária serão os mercados financeiros e os seus investidores estrangeiros.

E para quem ainda não percebeu o que é ir aos mercados, eu explico de uma forma muito muito simples.
O Zé deve 500€ ao Tó, mas não tem como pagar essa dívida. Então, vai pedir ajuda ao Quim e este diz-lhe: "Eu pago esses 500€ por ti, mas tens de me dar mais 200€ como garantia." Conclusão: o Tó vê os seus 500€ de volta, mas o Zé ficou com uma dívida ainda maior (700€). O Zé é Portugal.